Cinema: A Oeste de Memphis

A 6 de maio de 1993, na zona de West Memphis, estado de Arkansas, os corpos de três crianças de 8 anos de idade dadas como desaparecidas na véspera, são encontrados submersos num canal da região, evidenciando sinais de homicídio.

Ante o choque das famílias, da comunidade e da população americana alertada pelos media, a polícia enceta o processo de investigação sob suspeita de tratar-se de um crime envolvendo práticas de natureza satânica.

Três adolescentes entre os 17 e os 18 anos de idade identificados como praticantes de rituais satânicos e potenciais homicidas são presos e levados a tribunal, num julgamento que acabará por os condenar a prisão perpétua.

Não obstante este desfecho, o caso ‘West Memphis Three’ (‘Três de Memphis Oeste’) tem continuamente inquietando profissionais da justiça, meios de comunicação, ativistas e políticos sobre o homicídio em si e sobre a seriedade com que o processo de investigação e condenação foram conduzidos, questionando a verdadeira culpa dos condenados.

Tragicamente comuns, considerando a sua divulgação à escala global, os casos de crime que nos chegam por via mediática tocam-nos inevitavelmente de várias formas: entre elas, pelo horror e violência do ato em si; pela destituição de humanidade que implicam e a que sujeitam – perpetrador e vítima considerados; pelos contornos que assumem; pela curiosidade que suscitam; e pelo julgamento que envolvem, seja ele a nível individual ou coletivo, espontâneo, mediático ou finalmente oficial, através das entidades tutelares para o efeito.

Construído para refutar a inquestionabilidade da acusação aos três jovens condenados pelo homicídio de 5 de maio de 1993, ‘A Oeste de Memphis’ reúne incógnitos e artistas num filme-denúncia de estilo documental, sugerindo a possibilidade de estarmos perante seis e não apenas três vítimas de crime: as de um ou mais homicidas e as de um sistema legal deficiente na atuação.

Um caso sobre um caso que servirá menos para concluir sobre a autoria do homicídio em si do que para refletir sobre as formas – liberdade e limitação consideradas – de investigação, julgamento e condenação de que a sociedade hoje dispõe. Seja através de um sistema legal instituído seja, no caso, através do cinema.

Margarida Ataíde

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