Primeira parte da trilogia «Os Passageiros da Luz do Tempo», de Inês Gil
Inaugura-se no próximo dia 11 de agosto, na Sala do Veado do Museu História Natural, em Lisboa, a instalação vídeo e exposição fotográfica ‘A Nova Aliança’, primeira parte da trilogia ‘Os Passageiros da Luz do Tempo’, de Inês Gil.
‘A Nova Aliança’ estará patente ao público até 11 de setembro.
Com a trilogia ‘Os Passageiros da Luz do Tempo’, cuja primeira parte estamos prestes a desvendar, Inês Gil pretende levantar questões atuais como a bioética, a ecologia e a espiritualidade.
Para tal, parte da história bíblica de Noé e olha-a do ponto de vista contemporâneo. Os passageiros do barco (homens e mulheres, crianças e adultos), gémeos verdadeiros, colocam uma dúvida: são resultado de um mistério natural ou fazem parte de uma nova manipulação genética?
Em pares, os passageiros lembram a simbólica da Arca de Noé: trata-se então de uma simples viagem ou quererão partir de um mundo que se tornou demasiado artificial para um novo reencontro com a vida?
A gemeleidade permite refletir sobre a relação que cada um tem com o Outro, sobretudo na era contemporânea que isola cada vez mais as pessoas: a relação entre gémeos é particular, pela necessidade do Outro; a procura do Outro, enquanto ser humano, deixa para o segundo plano as relações sociais que se estabelecem cada vez mais por uma ordem material e privilegia a relação de confiança; a relação com o Outro, que se estabelece a partir da necessidade de contacto (os gémeos sentem particularmente a ausência física do outro), funciona como um contraponto às relações sociais virtuais veiculadas pelas redes sociais (Internet); o contacto e a necessidade do Outro revelam uma necessidade física e humana que supera o material; nesse sentido, forjar artificialmente o Outro (como a clonagem) deve ser ponderado – por acentuar um materialismo inumano?
Inês Gil, professora de cinema e fotografia na Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias em Lisboa, é membro da Equipa de Cinema da Pastoral da Cultura. Nasceu em Paris e instalou-se definitivamente em Portugal em 1998. Está a investigar a questão do “Novo Sagrado” no cinema contemporâneo. Tem duas filhas gémeas de 10 anos.
Margarida Ataíde