Cinema: A Conspiradora

Foi um dos mais bonitos atores do “seu tempo”, mas não se deixou arrebatar pela vaidade. Não tanto que lhe tolhesse outras qualidades. Por exemplo a de realizador. E é assim que aos 75 anos de idade – 51 de ator, 31 de realizador – Robert Redford nos chega com o seu mais recente filme: “A Conspiradora”.

À beira do fim, a Guerra da Secessão que opôs os Estados então desunidos do Norte aos do Sul da América, faz a sua mais representativa vítima: Abraham Lincoln. Face ao nível de agitação da população, para mais devastada e desgastada pela guerra, os governantes que ficam não perdem tempo e encetam uma feroz caça ao homem em busca dos culpados. À cabeça do processo está o então Ministro da Guerra Edwin Stanton que se apressa a engrossar a lista de acusados, nela incluindo como co-autora da conspiração homicida Mary Surrat, viúva, sulista convicta e dona da pensão que albergou os presumíveis assassinos.

Levada a julgamento, Mary Surrat conta para sua defesa com um jovem advogado, reconhecido pela bravura ao serviço das tropas do Norte. Renitente e incomodado com o facto de ter que defender o lado oposto à sua ideologia, Frederick Aiken não tarda a preterir as ideias em favor dos valores. Reconhecendo a fragilidade dos argumentos da acusação e a ausência de provas que a sustentam, determina-se a garantir a justiça e equidade do julgamento da ré, assumindo o seu papel na sala de tribunal com a mesma dignidade do campo de batalha. Aos poucos, apercebe-se de que a ausência de escrúpulos pode ser bem mais letal que uma arma.

Consistente e moderada, a narrativa de “A Conspiradora” desvenda-se aos nossos olhos com a mesma convicção que Mary Surrat, ou Robin Wright por ela, mantém ao longo do filme: a certeza de defender um bem acima do plano material, do conforto ou da acomodação, uma causa para lá do interesse mesquinho. Uma certeza que dispensa histeria nos desempenhos e soberba nos diálogos e, no entanto, ou antes por isso mesmo, num registo simples e escorreito nos oferece duas razoáveis horas de cinema.

Margarida Ataíde

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