Cinema: «A Cada Dia»

Quatro anos depois do intenso e dramático Vera Drake, o realizador inglês Mike Leigh está de volta com uma história pitoresca que já mereceu, entre muitos outras nomeações e prémios, entre Cannes, Berlim e Oscars, o de “Filme Mais Aprazível” no Festival Internacional de Cinema da Noruega. É de facto um prazer saborear, pausada e deliciosamente, a vida de Poppy, uma professora de uma alegria contagiante, cuja existência Mike Leigh vai desvendando aos nossos olhos com a tranquilidade, a naturalidade e o detalhe com que se desembrulha um rebuçado melado para não colar o papel. De aspecto britanicamente despreocupado, a rasar o desmazelo para um europeu, Poppy habituou-se a que a sua alegria “crónica” não traga senão optimismo a todos por quem passa. Acontece porém que, ao seu instrutor de condução, um homem de um negativismo contido que vive refém de regras rígidas e com uma enorme dificuldade em se adaptar ao estilo descontraído dela, Poppy inspira algo bem mais forte e profundo… Aqui se prova uma vez mais como, com base numa história simples, se pode conceber um filme único, em forma e conteúdo. Uma excelente base, em termos de argumento, aliado a um tratamento muito natural e eficaz e suficiente carga dramática, fazem de “Um Dia de Cada Vez” uma obra capaz de fazer rir e comover ao mesmo tempo, descontrair e pôr-nos seriamente a pensar, aliviar a alma e tocar o coração. Entre outras, levanta sem dúvida a questão de quanto nos é permitido ou possível viver em total grau de descontracção e felicidade sem atingir, por ténue que seja a marca deixada e por involuntário o contributo, a felicidade ou a estabilidade dos que nos rodeiam. À cabeça destes magníficos dias de Poppy está Sally Hawkins, uma actriz simplesmente fabulosa que, além do Urso de Prata na capital alemã já arrecadou um justíssimo Golden Globe! E a secundá-la, está o igualmente magnífico actor Eddie Marsan.

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Agência ECCLESIA

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