Fernando Luís Cardoso de Menezes de Tavares e Távora nasceu a 25 de Agosto de 1923 na freguesia de Santo Ildefonso, no Porto.
Após terminar os seus estudos em arquitetura, publica em 1947 o ensaio ‘O problema da casa portuguesa. Falsa arquitectura. Para uma arquitectura de hoje.’
Clara prova do seu espírito crítico em relação ao caminho que o movimento modernista toma em Portugal, servindo cada vez mais o ideário político do Estado Novo e cada vez menos a profundidade necessária a um sério debate cultural, o ensaio é o primeiro sinal evidente do compromisso do arquiteto em perscrutar o coração de uma identidade arquitetónica portuguesa em que modernidade e tradição verdadeiramente dialogassem. Com efeito, Fernando Távora foi um dos arquitetos que mais afincadamente procurou aprofundar as raízes dessa identidade, contrariando o populismo do pitoresco que sustentava o idílio de um fantasioso ser português. Escapa, assim, à instrumentalização a que Raul Lino e a sua ‘casa portuguesa’ sucumbem, defendendo a necessidade um sério estudo e inventariação da arquitetura popular, começando ele próprio, tal como Francisco Keil do Amaral, por empreender uma busca, por meio da investigação e de trabalhos de campo, sobre o que seria a essência das novas intenções do movimento moderno.
Estas intenções serão expressas já próximo da década de cinquenta e estendendo-se até 1960, em três projetos seus, fundamentais: o Plano para o Campo Alegre, o seu projeto de CODA (concurso para obtenção do diploma de arquiteto) e o projeto para o conjunto habitacional de Ramalde. A diferença entre o seu projeto ‘uma casa à beira bar’ e a ‘casita à beira mar’ de Raúl Lino expressam bem as diferenças de perspetiva sobre uma genuína síntese conciliatória entre modernidade e tradição.
Membro fundador do ICAT (Iniciativas Culturais Arte e Técnica), Fernando Távora é particularmente atento aos problemas do contexto social e económico da produção da arquitetura, contribuindo ativamente para a defesa e promoção dos pontos de vista profissionais que aqueles levantam.
Nove anos após a morte de Távora, ‘1960’, documentário que agora estreia em Braga e no Porto, é o seu registo pessoal à passagem, em cinco meses de viagem desse mesmo ano, por vários países. Uma combinação de imagens então registadas em super8 e reflexões escritas, agora reproduzidas na voz do ator Marcos Barbosa, que o realizador Rodrigo Areias (Estrada de Palha, 2012) combina devolvendo-nos à atualidade um arquiteto fortemente empenhado na busca do sentido da vida e das coisas, na expressão do outro e na dignidade humana, na relação ancorada em contexto e origem, preservando a essência de cada um e cada coisa e o resultado do seu encontro, em respeitador diálogo.
Margarida Ataíde