Hollywood esperou, e bem, alguns anos antes de começar a transferir para a ficção cinematográfica os acontecimentos de 11 de Setembro de 2001, com a destruição das Torres Gémeas do World Trade Center, em Nova Iorque. Algumas abordagens europeias do tema passaram mais ou menos despercebidas, mas chegou a hora dos próprios americanos se debruçarem sobre o seu próprio drama. Estreou primeiro “Voo 93”, centrado sobre um dos aviões desviados, o único que não atingiu o alvo; seguiu-se um filme de maior intensidade, centrado no local do maior desastre e realizado por Oliver Stone, um cineasta com créditos firmados. O importante deste novo filme, que toma por título o próprio “World Trade Center”, é a dimensão humana tomada por uma gigantesca operação de resgate de vítimas em que os próprios socorristas acabam por ser retidos pela queda dos escombros. Socorristas que arriscam a vida em benefício de terceiros e se tornam eles próprios vítimas. Os dois polícias que servem de tema ao filme foram a antepenúltima e penúltima vítimas a serem salvas com vida, descrevendo-se com uma rigorosa minúcia todos os passos necessários para o seu resgate, conseguido em condições de extrema dificuldade e com a abnegação de colegas e outros elementos da equipa de salvamento. O melhor do filme reside na definição do carácter dos dois homens longamente retidos entre ferros e betão, num diálogo que os mantém vivos em função da companhia que sentem, no apoio mútuo, embora perto da agonia. Oliver Stone vai melhor nesta análise humana que num confronto claro com a sociedade e os seus governantes, fazendo um grande desvio em relação a obras anteriores e mostrando-se mais domesticado pelo sistema. As raras críticas aos eventuais responsáveis são frouxas, passadas para segundo, plano, sem uma preocupação séria de análise das várias causas para um ataque selvagem da dimensão verificada. Francisco Perestrello