Paulo Rocha, Agência ECCLESIA
A tragédia que aconteceu em Portugal nos últimos dias, sobretudo nas primeiras horas de um incêndio que ceifou mais de seis dezenas de vidas, deixou na fragilidade centenas de pessoas e queimou projetos e sonhos de lugares e populações inteiras, é uma ocasião para reler um texto com pouco mais de uma página. Tem por título “Cuidar da casa comum da criação – Prevenir e evitar os incêndios” e foi publicado no final de abril último. Autor: Conferência Episcopal Portuguesa.
De relevar, desde logo, o facto de ter sido discutido durante o outono e o inverno últimos, quando os dias frios e chuvosos mais levavam a considerações sobre lareiras do que labaredas e diante das interrogações, que subscrevi, por, mês após mês, os relatórios do trabalho do Conselho Permanente da Conferência Episcopal Portuguesa insistir na reflexão sobre a prevenção dos incêndios num tempo que não constituíam qualquer ameaça.
O documento em causa tem depois a lucidez de, em cinco pontos, dizer tudo sobre os incêndios, a prevenção e o combate. Não por ser um manual de uma corporação de bombeiros ou qualquer outro organismo de proteção civil, mas por incluir as indicações essenciais que levam a uma mudança de culturas e comportamentos, as únicas vias para contrariar um “flagelo com proporções quase incontroláveis”, rejeitando “vãs lamentações” e assumindo a urgência de “mudarmos realmente de mentalidade e de hábitos sociais”.
As cinco decisões:
1. Apurar as causas de “comportamentos criminosos” que estão na origem de muitos incêndios, “detetar e combater interesses” associados e punir os “responsáveis, diretos ou indiretos, por tais crimes”;
2. Respeitar e seguir as “medidas de prevenção, nomeadamente de limpeza das matas e de ordenamento territorial”, apoiando os proprietários nos casos em que “os terrenos lhes proporcionam rendimentos escassos” e desafiando o Estado a “dar o exemplo”;
3. Valorizar, promover e alargar o sentido do bem comum, traduzido no compromisso ativo de muitos cidadãos “quer na prevenção quer no combate aos incêndios”, “destacando-se os bombeiros pelo profissionalismo e o modo abnegado e desinteressado com que o fazem”, e nas “manifestações de humanismo e solidariedade” que sempre surgem;
4. Olhar a natureza “não como uma simples fonte de utilidade e rendimento económico” e “sujeita a explorações”, mas “respeitá-la e valorizá-la, na sua bondade, harmonia e equilíbrio, como um dom que recebemos e um legado que devemos esforçar-nos por transmitir às gerações futuras”;
5. Mobilizar “toda a sociedade” para a “mudança de mentalidades e hábitos sociais”, “tão necessária para a prevenção e o combate aos incêndios”: o Estado, a “Igreja e todas as outras confissões religiosas”, as autarquias, as escolas, a comunicação social e “as mais variadas associações.
Cinco… Cabem numa mão as normas para prevenir e combater os incêndios.
Vamos a isso! Em todas as estações do Ano!
Paulo Rocha