Rita Valadas defende que cada país tem de encontrar caminho para que objetivos se tornem «concretizáveis»
Lisboa, 06 mai 2021 (Ecclesia) – A presidente da Cáritas Portuguesa disse hoje à Agência ECCLESIA que esperar que a Cimeira Social do Porto seja uma “inspiração” para Portugal e para toda a União Europeia (UE), procurando caminhos para a concretização dos objetivos ligados aos Direitos Sociais.
“Espero que a Cimeira Social seja inspiração para Portugal e para todos os países, são momentos importantes para discutir temas e aprendizagens comuns que podemos ter mas, cada país, terá de interpretar os 20 objetivos que estão na base desta cimeira procurando os caminhos que os tornem concretizáveis e nos formatos adequados ao país”, realçou Rita Valadas.
A Cimeira Social tem lugar esta sexta-feira, no Porto, no contexto da presidência portuguesa do Conselho da União Europeia, e visa aprovar o programa com medidas concretas para executar o Pilar Social Europeu, texto não-vinculativo de 20 princípios que visa promover os direitos sociais na Europa, aprovado em Gotemburgo (Suécia), em novembro de 2017.
A entrevistada considera que este encontro é um “facto importante” da presidência de turno de Portugal, como “indicação de caminho e de preocupações comuns”.
“Alinhar ou ter uma estratégia construída com a UE dá a possibilidade de incorporar, nas nossas medidas nacionais, lições de como fazer e de como não caminhar. É indispensável e muito nos honra acontecer durante a presidência portuguesa”, observa.
Rita Valadas reforça ainda que uma declaração, que se espera venha a ser assinada no fim da cimeira, “compromete os países” mas “não indica as formas que cada país tem de concretizar”.
A responsável citou ainda o manifesto que a Cáritas Europa subscreveu, em defesa das crianças, no qual se aponta falta de ambição aos responsáveis comunitários.
“Temos de ter esta consciência de que, em 2019, havia 2 milhões de crianças nesta situação. Se as crianças são o futuro do nosso país e da UE, deveríamos estar a cuidar para que estas crianças possam ajudar a construção de um país e da UE diferentes”, sustenta.
Rita Valadas refere o recente estudo da Fundação Francisco Manuel dos Santos, onde se aponta a ligação entre a taxa de pobreza e as famílias com mais filhos.
“É muito triste, numa sociedade que carece de crianças e precisa de muitas famílias com vontade de ter crianças, para que a UE não seja espaço de seniores”, afirma.
A presidente da Cáritas Portuguesa aponta ainda ao objetivo de “eliminar as situações de sem-abrigo”, realçando que, no seu entender, não há um “completo alinhamento de conceitos”, muitas vezes sem atenção à vertente da saúde mental.
“Em relação a Portugal, numa altura em que se verifica o aumento do número de pessoas sem-abrigo, este objetivo fica no meu espaço de esperança e pouco no meu realismo, até porque este problema é social, complexo, e carece da atenção da área da saúde mental”, assume.
Rita Valadas considera que o mais importante é que os objetivos da Cimeira Social “sejam concretizados, na medida que se alinhem com o território, prioridades e fragilidades”, realçando que, no caso português, isso diz respeito a um país “pobre”.
SN/OC