Abertura dos trabalhos do Sínodo dos Bispos com referências às guerras, pandemias, mas também às potencialidades de África
Os mais de 200 participantes no II Sínodo dos Bispos para a África, que decorre no Vaticano, querem mostrar ao mundo uma nova face deste continente, ultrapassado as marcas das guerras e pandemias.
A “cimeira” africana iniciou os seus trabalhos com uma apresentação dos principais temas que serão trabalhados nos próximos dias. O Cardeal Peter Turkson, do Gana, apontou alguns dos problemas com a Igreja e a sociedade africanas se confrontam, como o tráfico de armas ou de droga, mudanças climáticas, a proliferação das seitas, os confrontos étnicos e as migrações.
“A África foi acusada por muito tempo pelos media de tudo aquilo que é repugnante para a humanidade. Pelo contrário, é o segundo mercado mundial emergente após a China, é o continente das oportunidades”, acrescentou.
Para o relator-geral do Sínodo, é tempo de “dizer a verdade sobre a África com amor, promovendo o desenvolvimento do continente que levará ao bem-estar do mundo inteiro”.
O Cardeal ganês apontou ainda outros problemas, como a crise do matrimónio tradicional, minado por uniões alternativas “desprovidas do conceito de compromisso duradouro e sem a finalidade da procriação”.
“Isso tende a estabelecer uma nova ética global sobre a família, sobre a sexualidade humana, e sobre aspectos ligados ao aborto, à contracepção e à engenharia genética”, lamentou.
Posteriormente, em conferência de imprensa, D. Peter Turkson disse aos jornalistas que admitia a eleição de um Papa negro e reforçou a sua convicção de que as prioridades no combate à SIDA passam pela “fidelidade e a lealdade no interior do casal, a abstinência de quem foi contagiado e um maior investimento nos fármacos antiretrovirais e na investigação”.
Já está manhã, a Rádio Vaticano desmentiu notícias de agências internacionais, que atribuíam ao Cardeal declarações a defender o uso do preservativo por casais em que um dos cônjuges esteja contagiado. O prelado admitiu que “muitos desejam o uso do preservativo, que, porém, em muitos casos pode ser também de má qualidade e, portanto, perigoso”.
Na mesma conferência de imprensa, D. Turkson disse que “os Bispos africanos apoiam os trabalhos do Tribunal Penal Internacional e os processos sobre crimes de guerra ocorridos na República Democrática do Congo e no Sudão”.
Sobre o tema do Sínodo, “A Igreja em África ao serviço da reconciliação, da justiça e da paz”, o relator-geral afirmou que esta é uma reunião de “pessoas de fé, que seguem tudo o que acontece no mundo”.
“Acreditamos que a justiça não consiste apenas no pedido de reparação e ressarcimento económica, mas também no perdão”, indicou.
A sessão inaugural contou com uma intervenção de Bento XVI, o qual vincou que a Igreja “não é uma organização, mas o fruto do Espírito rumo à Cidade de Deus que une todas as culturas”.
“Todas as nossas análises do mundo são insuficientes se não formos até a este ponto, se não considerarmos o mundo na luz de Deus, se não descobrirmos que na raiz das injustiças, da corrupção, está um coração não recto, um fechamento para com Deus e, portanto, uma falsificação da relação essencial que é o fundamento de todas as outras”, indicou.
O Papa disse ainda o cristianismo não é uma soma de ideias, nem de filosofias, pelo que cada um se torna cristão “por amor”, que chama a uma responsabilidade activa pelo próximo.
Logo após discurso de Bento XVI, prosseguiram os trabalhos com três pronunciamentos: a saudação de um dos presidentes delegados, Cardeal Francis Arinze; a introdução do secretário-geral do Sínodo, D. Nikola Eterović, e o já referido “Relatório antes da discussão”, feito pelo relator-geral, Cardeal Peter Turkson.
O Cardeal Arinze recordou que a África é conhecida como uma terra que procura “fugir das injustiças e das guerras”, mas também como “um continente de amor, de solidariedade e de compromisso pela paz e a reconciliação”.
Por sua vez, o Arcebispo Eterović ressaltou o dinamismo da Igreja em África, evidenciando também um crescimento das vocações, e as muitas actividades católicas no campo da assistência social, da saúde e da educação.