No dia 14 de Maio, o CADC promoveu em Coimbra um debate sobre as origens do mundo com a participação de António Onofre e do jesuíta Álvaro Balsas, ambos físicos, a propósito das experiências que decorrerão no novo acelerador do CERN, na Suíça, onde o António Onofre colabora.
O debate decorreu no Salão Polivalente de S. José com a participação de uma centena de pessoas, muitos dos quais, estudantes e docentes da Universidade de Coimbra.
“A ciência é uma coisa muito bonita, feita do homem para o homem”, começou por explicar António Onofre, professor da Universidade de Coimbra. A ciência “é um tema inesgotável, podia-se estar aqui durante vários dias a discutir as origens do mundo”, salientou o cientista.
Quanto às origens do mundo, António Onofre diz que a ciência absorve este tema. “A filosofia e a religião já pouco têm haver. Ver as origens do mundo sob o ponto de vista da filosofia, é visto com desconfiança”, salienta o cientista.
António Onofre reconhece que existe um “conflito entre a ciência e a fé”. Para o cientista da Universidade de Coimbra, “há determinados fundamentalismos de ambas as partes” que não fazem sentido. O especialista aposta no diálogo e na integração de ambas as partes. “Não aceito imperialismos metodológicas, mas sim, uma multiplicidade de métodos para abordarmos as nossas experiências sobre o cosmos”, referiu o cientista que se encontra actualmente na Suíça a colaborar num projecto internacional – no CERN, que consiste em criar o «big bang», a fim de explicar as origens da vida e do planeta.
Por outro lado, António Onofre, “não aceita andar aí à procura de buracos para colocar Deus”. Sobre as origens do universo, o cientista explica que procura ter atenção aos métodos. “Um método é uma grelha de leitura, depende daquilo que quisermos analisar”, salientou o conferencista. “Qualquer método, tem sempre um método de pressupostos. Quando definimos um método, estamos a limitar um campo”, referiu o cientista. “Nas minhas experiências, têm que aparecer sempre um número. A matemática permite olharmos para os resultados de uma forma clara. Mas será que toda a realidade do universo é quantificável?”, interpelou.
Para o jesuíta Álvaro Balsas, “a teologia usa o mesmo conceito da ciência que é a criação a partir do nada”. Segundo este sacerdote e cientista “a ciência tenta explicar a matéria sem poder avaliar a matéria. Àquilo que a física não consegue explicar temos que recorrer à filosofia e à teologia. A teologia fala do criador como solução para explicar as origens”, afirma.
“A realidade do universo não pode ser totalmente compreendido, mas sim entendido”, explica o Padre Álvaro Balsas. O facto de acreditar em Deus e ser cientista, “não me impede de fazer ciência, antes pelo contrário! Concede-me experiências para entender o universo”, realça o conferencista. “Para o crente, é possível aceitar Deus como criador do universo, origem da vida, sem competir, mas completando com a ciência”, concluiu o sacerdote.