Cidades: Olhar as periferias é caminho para construir «sociedades diferentes» – Papa Francisco

Francisco recebeu responsáveis pelos municípios italianos a quem pediu para serem «pais», não terem medo de «escutar» o povo que cuidam e valorizou as «redes de solidariedade e generosidade» que a pandemia impulsionou

Foto: Vaticano

Cidade do Vaticano, 05 fev 2022 (Ecclesia) – O Papa Francisco pediu hoje aos responsáveis pelos municípios italianos que as periferias sejam “laboratórios de uma economia e sociedade diferentes”.

“Partir das periferias não significa excluir alguém, é uma escolha de método; não uma escolha ideológica, mas partir dos pobres para servir o bem de todos. Você sabe muito bem: não há cidade sem pobres. Eu acrescentaria que os pobres são a riqueza de uma cidade. Eles lembram-nos das nossas fragilidades e que precisamos uns dos outros. Chamam-nos à solidariedade, que é um valor central da doutrina social da Igreja”, afirmou aos os membros da associação nacional dos municípios italianos, que recebeu esta manhã, em audiência, no Vaticano.

O Papa pediu aos responsáveis pelos municípios que olhem para as periferias, indicando que o todo se vê melhor a partir das periferias.

“Quando lidamos com as pessoas, não basta dar um pacote de comida. A sua dignidade exige um trabalho e, portanto, um projeto em que cada um seja valorizado pelo que pode oferecer aos outros. O trabalho é verdadeiramente uma unção de dignidade! A maneira mais segura de tirar a dignidade de uma pessoa ou de um povo é tirar o emprego. Não se trata de levar o pão para casa: isso não lhe dá dignidade. Trata-se de ganhar o pão que cada pessoa leva para casa. E isso sim, unge-te com dignidade”, explicou.

Francisco agradeceu o trabalho feito em tempo de pandemia, “essencial para que quem tem responsabilidade legislativas tomasse decisões oportunas para o bem de todos”, mas lembrou as fragilidades que este tempo descobriu.

“Em tempos de pandemia descobrimos a solidão e os conflitos dentro das casas, que ficavam escondidas; a tragédia de quem teve que fechar a sua atividade económica, o isolamento dos idosos, a depressão de adolescentes e jovens – basta pensar no número de suicídios de jovens -, as desigualdades sociais que favoreceram aqueles que já gozavam de condições económicas confortáveis, os esforços das famílias que não chegam ao fim do mês”, lamentou.

O Papa falou sobre a importância das redes de solidariedade e da generosidade de “voluntários, vizinhos, pessoal de saúde e administradores que se dedicaram a aliviar o sofrimento e a solidão dos pobres e idosos”, aquilo que chamou de “tesouro” a preservar e fortalecer.

O Papa falou do papel que os presidentes das autarquias desempenham que se assemelha a um papel de pai ou de mãe, que se realiza na “escuta” e pediu que não tenham medo de ouvir.

“Não tenham medo de «perder tempo» a ouvir as pessoas e seus problemas! Uma boa escuta ajuda a discernir, a compreender as prioridades sobre as quais intervir. Não faltam, graças a Deus, os depoimentos de presidentes que dedicaram muito do seu tempo para ouvir e recolher as preocupações do povo”, valorizou.

Para a gestão dos municípios, a par de um financiamento adequado, é necessário “coragem da imaginação”.

“Às vezes temos a ilusão de que um financiamento adequado é suficiente para resolver os problemas. Não é verdade, na realidade, é preciso também um projeto de convivência civil e de cidadania: é preciso investir na beleza onde há mais degradação, na educação onde impera o mal-estar social, nos lugares de agregação social onde se vêem reações violentas, na formação para a legalidade onde a corrupção domina”, indicou.

Francisco quis ainda falar da palavra «paz» a marcar os “relacionamentos de qualidade” e a criar “verdadeira segurança social de uma cidade”.

O caminho para essa concretização, indicou, passa por “criar um tecido comum de valores que leve a desarmar as tensões entre diferenças culturais e sociais”, gerador de encontro e convivência comum.

O Papa explicou que os “conflitos” são perigosos mas as crises não, e exemplificou com a vivência da pandemia que colocou as pessoas em crise mas deu-lhe a capacidade de “resolver e progredir”.

“A paz social é fruto da capacidade de compartilhar vocações, habilidades e recursos. É fundamental fomentar a iniciativa e a criatividade das pessoas, para que possam tecer relações significativas dentro dos bairros. Muitas pequenas responsabilidades são a premissa para uma pacificação concreta que se constrói diariamente. É bom recordar aqui o princípio da subsidiariedade, que valoriza as instâncias intermediárias e não mortifica a livre iniciativa pessoal”, lembrou.

Aos responsáveis o Papa pediu que permaneçam junto do povo e que se “gastem”, afirmando que também ele é “«presidente» de alguma coisa”.

LS

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Agência ECCLESIA

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