Miguel Oliveira Panão (Professor Universitário), Blog & Autor
Dizem que a idade não perdoa, mas um estudo; recente mostrou que também as ondas de calor não perdoam a idade. Aparentemente, quem mais se sujeita a essas ondas, mais envelhece. No momento presente em que procuramos celebrar o Tempo da Criação, estar cientes de que as alterações climáticas poderão estar a consumir tempo de vida a quem não tem recursos de ar condicionado, parece-me francamente injusto e um problema a resolver.
No Verão do ano passado, um artigo; da Scientific American dizia que—«O ar condicionado deixou de ser apenas um luxo, passando a ser um imperativo para a saúde humana, uma vez que o stress térmico é a principal causa de morte relacionada com fenómenos meteorológicos.»—E há três anos, em Julho de 2022, uma notícia; da escola de engenharia de Harvard escrevia que—«O ar condicionado, uma tecnologia tida como adquirida nas nações mais ricas do mundo, é uma ferramenta que salva vidas durante ondas de calor extremo.»—o estudo referido nessa notícia aponta para uma publicação; que chegou à conclusão de que seria preciso 75% do actual consumo total de electricidade para resolver o problema de ar condicionado das pessoas mais carenciadas até 2050. Ou seja, são inúmeros os alertas para esta catástrofe humana à espera de acontecer.
Na Laudato Si’, o Papa Francisco associou o “condicionador de ar” (ou ar condicionado) a um hábito nocivo de consumo energético, mas creio que foi mal aconselhado. Isto porque o ar condicionado pode ser obtido por uma bomba de calor cuja energia útil usada é superior à consumida. Ao contrário, por exemplo, de um aquecedor eléctrico. Por outro lado, como pode o conforto térmico que garante a saúde das pessoas ser um hábito nocivo?
A nocividade estará no consumo exacerbado e indiscriminado quando poderiam ser usadas técnicas passivas como abrir as janelas pela manhã para refrescar a casa e fechar as persianas durante os períodos de maior calor. Mesmo assim, se uma casa não estiver bem construída, as paredes irão acumular calor durante o dia e continuar a emitir calor para o interior da casa por radiação. Basta aproximar a mão da parede sem tocar nela para sentir o efeito, se for o caso, sendo algo que um ar condicionado que usa uma bomba de calor pode resolver por um período relativamente curto, sem necessidade de estar sempre ligado. A realidade é que 1h de conforto que nos rejuvenesce pode ser equivalente ao consumo de televisores e computadores ligados por muitas horas, a carregar a mente de trabalho e/ou entretenimento.
Depois, existe o consumo energético que ninguém vê, como aquele que sustenta as inúmeras fotos e vídeos que se partilham por WhatsApp ou por e-mail, ou as solicitações de informação que fazemos através das várias Apps e pelas ferramentas de Inteligência Artificial. Os servidores que sustentam tudo isso são conhecidos por terem um enorme gasto de energia para funcionarem e de água para os arrefecer. O hábito saudável a estimular diante da necessidade de nos adaptarmos ao mundo novo gerado pelas alterações climáticas será a maior consciência da urgência de aprendermos mais e melhor sobre como funcionam as coisas e qual o impacto autêntico da mudança de comportamentos.
Existe sempre uma resistência natural em aprofundar o modo como funciona o planeta porque as alterações que se falam em relação ao clima acontecem numa escala de tempo muito diferente do nosso tempo de vida. Por outro lado, exige uma maior abertura da mente para aprender coisas novas e nem todos estão para isso. Porém, aquilo que os cientistas têm alertado é que o modo como funciona a nossa vida produz um impacte inegável sobre o planeta, mas enquanto não sentirmos na pele, ou sentirem outros que conhecemos pessoalmente, a resistência a pensar como, quando e em quê mudar mantém-se ou eleva-se.
No dia 9 de Julho deste ano, o Papa Leão XIV celebrou a primeira Missa pelo “Cuidado da Criação” com um ritual próprio que fará doravante parte dos nossos Missais. Diz ele que —«Num mundo em chamas, seja devido ao aquecimento global ou a conflitos armados há esperança! Encontrámo-la em Jesus.»— A acção necessária está aberta à nossa imaginação e aprofundamento da experiência de encontro com Jesus nos dias de hoje. “Rezar” parece ser uma forma de agir passivamente, mas isso não poderia estar mais longe da verdade. Rezar forma a consciência humana para aquilo que é, e para aquilo que Deus a chama a ser. Pela oração procuramos a Voz de Deus que dentro de nós semeia o pequeno grão de mostarda da curiosidade e vontade de tornar o mundo melhor, que irá crescer no tempo e dará fruto. Só uma mente consciente do comportamento que precisa de mudar pode dar o passo activo que ritma a vida de um modo diferente e permanecer nesse ritmo. Se um ar condicionado pode travar o envelhecimento antecipado, um ritmo de vida orante pode impulsionar um rejuvenescimento do espírito ousado. A ousadia de mudar o que podemos, cada vez mais conscientes disso.
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