China e Vaticano em rota de colisão

Papa lamenta ordenação de Bispo sem a sua autorização. Santa Sé fala em «violação da liberdade de religião e de consciência»

Bento XVI lamentou “profundamente” a ordenação de um bispo, na China, sem a sua autorização, revela um comunicado da Santa Sé divulgado esta Quarta-feira.

Em causa está a decisão do governo chinês de atribuir um cargo episcopal ao padre Joseph Guo Jincai, cuja ordenação – considerada ilícita pelo Vaticano – aconteceu no último dia 20 de Novembro.

Apesar dos alertas lançados pela Santa Sé sobre as consequências deste acto, a Associação Patriótica Católica (APC), controlada por Pequim, avançou com a primeira ordenação deste género em quatro anos.

Segundo o comunicado oficial da sala de imprensa do Vaticano, este gesto da APC “constitui uma ferida dolorosa na comunhão eclesial e uma grave violação da disciplina católica”.

A APC foi criada em 1957, para evitar “interferências estrangeiras”, em especial do Vaticano, e para assegurar que os católicos viviam em conformidade com as políticas do Estado.

A nota da Santa Sé denuncia “pressões e restrições à liberdade de movimentos” de vários bispos, “com o objectivo de os forçar a participar e a conferir a ordenação episcopal”.

“Tais constrangimentos, provocados pelo governo chinês e a autoridades de segurança, constituem uma grave violação da liberdade de religião e de consciência”, pode ler-se.

A Santa Sé anuncia que vai proceder a uma “avaliação detalhada” dos acontecimentos, lamentando as “dolorosas repercussões do acto”, que incluem a excomunhão de Guo Jincai, à luz do cânone 1382 do Código de Direito Canónico.

Esta ordenação “não só não ajuda o bem dos católicos” chineses, mas, segundo o Vaticano, “coloca-os numa condição bastante delicada e difícil, também sob o perfil canónico e humilha-os , porque as autoridades chinesas querem impor-lhes um pastor que não está em plena comunhão, nem com o Papa nem com os outros bispos espalhado pelo mundo inteiro”.

Num longo comunicado, com sete pontos, a Santa Sé assegura ter “comunicado claramente” às autoridades chinesas que se opunha à ordenação de Guo Jincai, condenando o procedimento “unilateral” da APC “em detrimento da atmosfera de respeito que tinha sido criada com grande esforço”.

O Vaticano tem manifestado, por diversas vezes, o desejo de que a China respeite a liberdade de culto e de religião no país, cuja ausência afecta de forma especial milhões de católicos que vivem a sua fé na clandestinidade.

Para o restabelecimento de relações diplomáticas, a China exige que o Vaticano deixe de reconhecer Taiwan como país independente e que o Vaticano aceite também a nomeação dos bispos chineses por parte da Associação Patriótica Católica (APC), controlada pelo Estado.

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