Chiara Lubich – Uma vida de testemunho

D. Jorge Ortiga lembra «Paixão pela Igreja, como autêntica comunidade de Vida entre os homens e mulheres» Nem sempre se torna fácil conciliar a objectividade duma vida humana com a experiência subjectiva que provoca noutras pessoas. Podemos correr o risco de não ser imparciais. Quando, porém, aquela vida envolve multidões e corresponde às exigências do tempo, a experiência subjectiva ajuda a compreender e a explicar. Nesta perspectiva e com muita sinceridade, posso afirmar que Chiara Lubich antecipou, através do carisma que Deus lhe outorgou, o Concílio Vaticano II e suscitou uma onda de corresponsabilidade na sua concretização. Partindo duma prioridade, absoluta e condicionante, da espiritualidade como livre opção por Deus encontrou na Palavra o caminho de encontro com o mesmo Deus e com a humanidade. A Palavra tornava- se Vida e esta emanava dum Deus que se revela Amor para a todos congregar numa íntima comunhão de fraternidade universal. Se Deus se reconhece como Uno na Trindade, o mundo encontra a sua experiência de alegria na aventura divina de conciliar a diversidade de todos, individualmente ou em grupos (culturais ou religiosos), na unidade como único e verdadeiro anúncio dum Deus Vivo que quis permanecer como denúncia de que tudo passa, só Deus e a expressão do Seu amor permanece. A “história” de Cristo, vivo e ressuscitado, acontece encarando o caminho do “abandono” como aceitação plena nas pegadas da “desolação” de Maria, no Calvário, que se imita quando se pretende reviver o Seu estilo de vida através da simplicidade de “estar” activamente nas dores da humanidade para, perdendo a vida por amor, gerar uma humanidade nova. Nesta espiritualidade evangélica Chiara Lubich suscitou uma Paixão pela Igreja, como autêntica comunidade de Vida entre os homens e mulheres, colocando-a ao serviço da unidade, através dum conjunto de “diálogos” que permanecem caminhos a percorrer. O Movimento, a que deu vida, conseguiu unir uma multidão de “movimentos” como modos diferentes de concretizar a única vocação à Santidade. Ninguém se poderia sentir excluído e a Casa do Pai acolhia a todos. O amor ao Movimento dos Focolares tornou-se verdadeiro na abertura a todos os outros movimentos eclesiais onde o que interessava era a presença de Cristo e nunca a preocupação pelo peculiar carisma. A Igreja permanecerá grata pelos encontros – verdadeiros Pentecostes – entre os principais movimentos que manifestam a vitalidade do Espírito na actualidade. O diálogo ecuménico e inter-religioso permanecerá como a denúncia dum “escândalo” da divisão que urge ultrapassar. A comunhão com os não crentes ou indiferentes acontece com normalidade para um Mundo Novo que não só exige a tolerância mas supõe o reconhecimento de quem conscientemente, ou inconscientemente, procura a Verdade. Daí que a sua vida permanecerá como síntese do que experimentou em 13 de Maio de 1944, quando sentia de deixar a mãe sobrecarregada com os poucos haveres e fugindo da guerra para um lugar mais tranquilo. Aí, com o pequeno grupo que começou a conviver com ela, ouviu o grito lacerante das mães que perderam os seus na guerra. Experimentou “lágrimas” mas acreditou nas “estrelas”. Para isso, foi mulher, no sentido genuíno da palavra, afirmando que a santidade não tem alternativa, e o seu testemunho chegou a todas as nações do mundo inteiro. As Universidades reconheceram a originalidade do seu pensar e agir. Foi conhecida e amada por multidões. Nunca quis que estas se encontrassem com ela mas não permitiu que a sua vida não deixasse de ser um permanente testemunho que arrastou e continuará a interpelar. As “lágrimas” de muitos foram eliminadas. A “estrela” duma vida feita testemunha nunca será esquecida. Não, a morte não existe quando uma vida marcou tantas vidas. Nos horrores da guerra e perante a contínua ameaça da morte, o grupo de jovens que se uniu a Chiara para, sem o entender, dar vida ao Movimento dos Focolares, expressavam o desejo de que, se a morte surgisse, quereriam que sobre a sua sepultura fosse colocada a frase evangélica: «Nós acreditamos no amor de Deus». Chiara acreditou e o amor de Deus realizou maravilhas na sua vida, na vida de milhões de católicos, de membros doutras confissões, cristãos e religiões, assim como do mundo da indiferença ou agnosticismo. No seu testemunho – que para alguns é testamento – continuará a proclamar Deus Caritas est e a vida vale por aquilo que deste amor mostramos e testemunhamos. D. Jorge Ortiga Arcebispo de Braga

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