Chamados à evangelização

Pedido de D. Jorge Ortiga, na peregrinação ao santuário do Sameiro O Arcebispo Primaz de Braga deseja que as comemorações do centenário da coroação da imagem de Nossa Senhora do Sameiro e dos 150 anos da proclamação do dogma da Imaculada Conceição «deixem marcas na vida da arquidiocese»; e assim o disse, ontem, na celebração eucarística que concluiu a peregrinação que reuniu milhares de pessoas. As marcas que D. Jorge Ortiga quer são as de uma vida «de autênticos discípulos de Cristo e membros vivos da Igreja». A quantos demandaram, numa manhã húmida e fria, ao santuário do Sameiro, o prelado pediu mesmo que não abandonassem o local mariano sem se comprometerem com um programa de vida marcado com o selo da Virgem, «modelo de disponibilidade». Na homilia, o Arcebispo Primaz resumiu uma parte da Carta Pastoral ontem profusamente distribuída. O capítulo escolhido foi, precisamente, aquele em que refere as interpelações que as efemérides agora em curso colocam aos cristãos bracarenses: a urgência de regressar à interioridade, a necessidade de renovar os Sacramentos da Iniciação cristã e a urgência de evangelizar um mundo que precisa de ser salvo. Saber o que Deus quer Explicando a necessidade de uma «interioridade contemplativa», o Arcebispo Primaz disse que, nos nossos dias, «há muito barulho» — sendo, por isso, urgente fazer silêncio, para deixar que Deus fale e, assim, descobrir o projecto que Ele tem para cada um. Para D. Jorge Ortiga, esta atitude é fundamental, mormente numa altura em que a arquidiocese de Braga se prepara para viver um ano vocacional. A este propósito, afirmou que não gosta da expressão “crise de vocações”, argumentando que o Senhor chama insistentemente, mas aos cristãos falta a consciência da dignidade de filhos de Deus. «É esta situação que se repercute na ausência de vocações», disse. No entanto, acredita que tudo mudará «se as comunidades educarem e caminharem ao ritmo da alegria de ser discípulo de Cristo que chama e propõe». Outra “conversão” que o Arcebispo espera diz respeito ao aprofundamento do modo como se recebem os sacramentos da Iniciação Cristã (Baptismo, Eucaristie e Confirmação). Segundo o Primaz, há que dar graças a Deus «pela religiosidade de uma diocese onde a quase totalidade das pessoas ainda percorre os caminhos destes sacramentos». No entanto, «a mera celebração não basta», advertiu, porque «há que chegar à identificação como os projectos de Cristo». Defendeu, por isso, «Eucaristias com outra autenticidade e o Crisma assumido como um compromisso militante». Na Carta, o prelado desenvolve este tema da necessidade de repensar a Iniciação, com algumas interrogações e uma constatação que é denunciadora: «muitas vezes estamos a semear a Palavra de Deus em terreno que não foi minimamente preparado. Outras vezes queremos começar o edifício pelo telhado. Isto equivale a dar “pérolas” às pessoas, sem a conveniente preparação para conhecerem o seu verdadeiros valor». Da interioridade e do aprofundamento, espera D. Jorge Ortiga frutos consistentes: «sentir-nos-emos convocados para a Missão, assumindo, com um novo ardor, o dever de evangelizar – fugindo à tentação do mais simples, que é ficar a ver o que está mal e a condenar, «quando a verdade é que o mundo precisa de ser salvo!». Este apelo à Missão, o prelado “leu-o” também nos painéis que podem ser vistos na cripta do Sameiro e nos remetem para a responsabilidade de dar continuidade à História de Portugal: «uma história de itinerantes da Boa Nova». Com D. Jorge Ortiga concelebraram o Arcebispo Primaz emérito, D. Eurico Dias Nogueira, e uma vintena de sacerdotes. No final da concelebração, antes da imagem de Nossa Senhora recolher ao seu altar, o cónego Melo Peixoto – presidente da Confraria do Sameiro – agradeceu a quantos participaram na jornada mariana de ontem e se envolveram na sua realização (coros e Orquestra do Norte, por exemplo); e explicou algumas das transformações em curso no santuário e no seu perímetro, onde ontem foi inaugurada uma pequena capela. Ocupada por uma imagem da Senhora do Sameiro, destina-se a proporcionar momentos de oração a quantos se desloquem àquele espaço, em horas a que a basílica já esteja fechada. Uma espera orante Começou cedo, ontem, a caminhada de milhares de pessoas até ao santuário do Sameiro. De facto, ainda não eram 8h00 e já a Rodovia parecia um rio maior e buliçoso, para onde confluíam, aqui e ali, afluentes saídos de ruas menores: eram grupos de peregrinos a juntarem-se aos caminhantes que se haviam concentrado na Sé. Atravessaram a cidade e subiram a montanha, cantando e rezando. Por vezes numa mistura de modos, que o comprimento do cortejo justifica; mas salva a unidade fundamental: o louvor e a súplica. Entretanto, já muitas centenas de automóveis se tinham antecipado aos peregrinos mais sacrificados e outros escolhiam a Falperra como estrada de acesso. O certo é que, às 8h00, havia já locais de aparcamento bem preenchidos, ao mesmo tempo que começavam a chegar pessoas para as missas da manhã, na cripta, ou mesmo para a eucaristia mais solene, a que haveria de presidir o Arcebispo Primaz. Os mais jovens afoitavam-se no escadório, de camisolas atadas à cintura. Mas, chegados à esplanada, apressavam-se a vesti-las, que o ar estava fresco, o nevoeiro denso e o orvalho humedecia os mais distraídos. Aliás, seria precisamente a humidade e provocar a primeira alteração ao programa: os artistas da Orquestra do Norte chegaram para interpretarem a Missa composta pelo saudoso cónego Manuel Faria, mas nem chegaram a afinar os instrumentos: não era possível a sua participação. E, assim, ficaram vazias as cadeiras diante dos coros que assumiram a animação litúrgica: coros do Sameiro, S. Martinho de Dume, Sé, Azurém e Orfeão de Braga. Mas mesmo antes da celebração, já estes coros se fizeram ouvir, apoiando a preparação dos peregrinos que iam chegando e que tiveram uma longa espera: sirva de exemplo o facto de as primeiras bandeiras terem entrado no recinto cerca das 10h30 e o andor com a Imagem de Nossa Senhora ali ter chegado mais de uma hora depois. Foi, porém, uma espera orante, com o P. Dr. Ferreira Rodrigues a propor reflexões e cânticos, pedindo «respeito e silêncio sagrado», contextualizando o aparecimento do santuário do Sameiro e enriquecendo quantos o escutavam – em alusões bíblicas, como quando percorreu alguns episódios do Antigo Testamento, para ali colher mulheres-figura da Virgem Maria, apresentada Aquela que «inaugurou a geração da graça» e é «fonte de vida nova». Agora, os cem anos da coroação da Imagem da Senhora do Sameiro e os 150 do dogma da Imaculada Conceição terão outros momentos de solene celebração – sendo o cume a cerimónia de 8 de Dezembro, com dimensão nacional, quando ao Sameiro se deslocar um enviado do Papa para, na presença do episcopado português, entregar ao santuário a “Rosa de Ouro”. Antes, de 8 a 10 de Outubro, a Universidade Católica dá o seu contributo fundamental para o indispensável aprofundamento da fé, mediante umas jornadas intituladas “Os caminhos de Maria nos caminhos para Deus”.

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