CEP/Abusos: D. José Ornelas diz que Igreja «não deve e não vai voltar» atrás, no caminho da «tolerância zero»

Jornada nacional de oração pelas vítimas de abusos sexuais, de poder e de consciência reúne bispos em Fátima

Fátima, 20 abr 2023 (Ecclesia) – O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) assumiu hoje em Fátima o compromisso de manter a “tolerância zero” pedida pelo Papa Francisco, perante abusos de qualquer tipo, na Igreja Católica.

“A nossa Igreja não pode voltar atrás neste caminho, não deve e não vai voltar: é mesmo preciso estar ao lado dos mais pequenos, dos mais esquecidos”, disse D. José Ornelas, na homilia da Missa a que presidiu em Fátima, assinalando a jornada nacional de oração pelas vítimas de abusos sexuais, de poder e de consciência na Igreja.

A iniciativa coincide com a conclusão da Assembleia Plenária da CEP, que se iniciou na segunda-feira.

O bispo de Leiria-Fátima falou na “absoluta necessidade” de dar prioridade a quem “sofre esta devastadora realidade”.

“Não se pode passar ao lado nem encobrir, por comodidade ou conivência. Não se pode pactuar com situações e atitudes que comprometam, deste modo, a vida de pessoas inocentes”, acrescentou.

A celebração na Basílica da Santíssima Trindade, reuniu 32 bispos portugueses, contando ainda com representantes do clero e de institutos religiosos, além de algumas centenas de fiéis.

Hoje, como bispos da Igreja em Portugal, queremos dizer àquelas e aqueles que sofreram estes abusos, antes de mais, uma palavra de reiterado pedido de perdão, com que começamos esta liturgia”.

O presidente da CEP começou por evocar a “dolorosa realidade” dos que foram vítimas de abusos, falando numa “enormidade destruidora”.

Para D. José Ornelas, a Igreja deve estar “ao lado dos que sofrem, escolhe o campo dos oprimidos e abusados, ajuda a carregar a sua dor, desorientação e revolta”.

“Isso significa acolher, acompanhar, sarar feridas, criar futuro na verdadeira liberdade e na esperança”, prosseguiu.

Foto Agência ECCLESIA/PR

O bispo de Leiria-Fátima observou que a atenção às vítimas está acima de “qualquer interesse dito estratégico, corporativo, estatal, espiritual ou religioso”.

“A atitude de humildade (que significa a verdade) permite colocar os que sofrem como prioridade do nosso agir e não a nós próprios, do nosso grupo ou mesmo do bom nome da Igreja. Esta é a atitude que nos move, ir ao encontro de quem precisa”, sustentou.

Para D. José Ornelas, esta atitude “não é dirigida contra ninguém”, nem sequer aqueles que “causaram estes males”.

“A busca de clareza e de justiça deve incluir também os que praticam o mal, pois a misericórdia de Deus é para todos”, justificou.

É uma dor que nos acorda, nos motiva e nos abre humildemente a ir ao vosso encontro, a escutar o que é incómodo, a reconhecer a dor e a procurar partilhá-la e, na medida do possível, aliviá-la e colaborar, por todos os meios, na libertação daqueles que foram tão dramaticamente afetados”.

O presidente da CEP apontou a um trabalho conjunto para “ajudar a sarar feridas e a abrir caminhos de futuro”, assinalando que este caminho “entra agora numa nova fase”.

“Estamos a criar condições para que esse encontro seguro e transformador seja possível. É convosco, e na medida do vosso desejo, que queremos empreender um caminho de reparação e de superação das dificuldades”, declarou.

Dirigindo-se às vítimas que estão no centro desta jornada de oração, D. José Ornelas considerou que “há caminho para além da dor, da justa revolta e da injustiça”.

“Convosco, com o vosso testemunho, com a vossa inconformidade e tenacidade de vida, esperamos também ser Igreja renovada e inconformada com qualquer tipo de mal”, concluiu.

OC

A CEP convidou as comunidades paroquiais e religiosas do país a associar-se a esta jornada, enviando proposta de oração universal, para ser utilizada nas celebrações eucarísticas de quinta-feira.

As comunidades são chamadas a rezar, entre outras intenções, “pelas pessoas que foram vítimas de qualquer espécie de abusos, para que encontrem em Cristo ressuscitado a cura das suas feridas e a coragem para uma vida nova”.

A proposta evoca ainda os “familiares e amigos que acompanham as vítimas de abusos, para que sejam uma presença de conforto e de ambiente seguro, e ajudem na recuperação da dignidade humana”.

A oração pede que estes sejam “tempos de purificação e de reparação” para a Igreja Católica.

 

 

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Agência ECCLESIA

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