No centenário do seu nascimento, a cidade de Coimbra está a homenagear Mons. Nunes Pereira. Depois de várias iniciativas nos últimos meses, a Casa Municipal da Cultura daquela cidade irá levar a efeito, no próximo dia 21 (amanhã), a apresentação crítica da obra literária de Mons. Nunes Pereira, por Aníbal Pinto Castro. Esta instituição assumiu a “chefia estas comemorações que envolve também a diocese de Coimbra” – referiu à Agência ECCLESIA Mário Nunes, Presidente da Casa da Cultura. E acrescenta: “pretendemos homenagear um homem que deixou à cidade, ao país e ao mundo um espólio extraordinário” . Nascido a 3 de Dezembro de 1906, este beirão, nascido em Fajão, produziu “imensas coisas e ensinou muito mais” – realça Mário Nunes. A povoação, rodeada de montanhas, é abraçada e protegida, na sua “espécie de concha, pelos telúricos rochedos da Penalva e do Cabeço da Mata, continuados pela Serra da Rocha, Serra Amarela e Picoto da Cebola”. Foi assim que Mário Nunes, Vereador da Cultura da Câmara Municipal de Coimbra definiu a aldeia de Fajão (Concelho da Pampilhosa da Serra) e terra natal de Monsenhor Nunes Pereira, falecido a 1 de Junho de 2001. Cinco anos depois do desaparecimento deste “homem simples… e alma rural” – (Marques, José Augusto; “Uma Vida com sentido”; In: Revista “Mensageiro de Santo António” de Julho/Agosto de 2001), a candura e a sabedoria profunda “desta alma portuguesa” não foram esquecidas. Mons. Nunes Pereira foi um “grande pedagogo e um grande professor” – disse Mário Nunes. Homem multifacetado Falecido com 94 anos e mais de quarenta vividos na cidade universitária onde deixou a última obra: um vitral no altar-mor da Igreja de S. José (Coimbra). A obra de arte foi inaugurada a 16 de Junho por D. Albino Mamede Cleto, bispo das terras do Mondego, mas os participantes na Missa do 7º dia puderam apreciá-la antecipadamente. Homem multifacetado, Mons. Nunes Pereira tanto utilizava as frases simples e profundas como a “pedra bruta” para dar a conhecer o Criador. Ao longo de muitos anos, a sua pena mostrou na revista “Mensageiro de Santo António” a interpretação fiel do nosso sentir colectivo, “da história comum, das nossas raízes de nação multissecular” – (Marques, José Augusto). As páginas da rubrica “Calhau Rolado” do “Mensageiro de S. António” estavam acompanhadas por gravuras que a sua arte colocava no papel. Nelas colocava “N. P” (Nunes Pereira) mas a sua humildade vinha ao topo da pirâmide e gostava de sublinhar: “N.P” significa “Não Presta”. Qualidades que Frei Eliseu Moroni (na altura Chefe de Redacção do “Mensageiro de Santo António) referiu: “foi devido a esta sua humildade que encontrei um “amigo”, fui amparado por um “pai”, animado por um “sacerdote”, ensinado a olhar os horizontes da vida por um verdadeiro “homem sábio””. E acrescenta: “na minha memória fica uma verdadeira herança espiritual”. A cidade do Mondego recorda com saudade esta figura carismática. “Coimbra já lhe deu uma rua com o seu nome” – sublinha Mário Nunes. Percorreu vários sítios da diocese e acabou por se fixar em Coimbra, na Igreja de S. Bartolomeu. “Nesta paróquia apresenta-se como o grande arauto das artes e do humanismo” – disse o vereador. Desenhava com rapidez fulminante Nos finais da década de cinquenta e após viagens a França, Itália, Alemanha e Holanda, Nunes Pereira dedicou-se à aguarela. Desenhava com uma rapidez fulminante, esculpia e pintava de igual modo e, dados os seus conhecimentos na área da madeira, aprendeu numa simples tarde, a técnica da gravura em metal, com José Contente. Por isso dizia: “Na base de todos os meus trabalhos está, sem dúvida, o desenho. Desenho em casa, na rua, nos cafés, nas reuniões, nos almoços. O meu desenho, salvo o que faço no gabinete, é um desenho de viagem, aproveitando ocasiões e às vezes escassos minutos”. Dominava igualmente a técnica do vitral, tendo executado vários trabalhos nesta área. Ao longo da sua vida, Nunes Pereira personificou a pluralidade de conceitos e de valores. Deus e os homens, uma dualidade indestrutível e inapagável, “constituem uma unidade e autenticam um princípio eterno”. Nunes Pereira comunga e evidencia esta eternidade: amar a Deus sobre todas as coisas e os homens como a nós mesmo. Notícias relacionadas •Nunes Pereira: homem,artista e padre