Centenário da República: Edição Digital Ecclesia

Ao longo do ano 2010, a Agência Ecclesia publica, em cada mês, uma edição digital sobre o Centenário da República.

A apresentação científica dos acontecimentos de há 100 anos e os que, nestes dias, os assinalam, são apresentados nestas páginas. Elas podem ser lidas em qualquer ecrã ou impressas e relidas em debates, tertúlias, reflexões. Os artigos de opinião que aqui sugerimos são um óptimo contributo para esses fóruns.

Em cada revista digital, publica-se também uma entrevista. Ao longo do ano 2010, 10 entrevistas com personalidades que têm conhecimento profundo dos acontecimentos de há um século, das questões que aí foram centrais e daquelas que, perdurando até aos nossos dias, determinam o ser e estar em sociedade.

A temática do religioso é uma marca identitária desta revista digital. Aqui não se publicam genericamente os conteúdos que assinalam o Centenário da República. Esta edição digital da Agência Ecclesia, pela sua especificidade editorial, centra atenções nas reportagens, entrevistas e artigos de opinião que salientem o factor religioso em todo o narrar histórico centrado no ano de 1910 e nos eventos que, durante este ano de 2010, a assinalam.

Réu da República

A primeira entrevista destas edições é a Amadeu Gomes de Araújo, que com D. Carlos Azevedo assina a obra «O Réu da República», editada com a chancela da Aletheia Editores, na qual se apresenta a vida e obra de D. António Barroso (1854-1918).

Amadeu Gomes de Araújo lembra que “D. António Barroso é conhecido, sobretudo, como bispo do Porto e pelas relações difíceis e conturbadas com Afonso Costa. Foi julgado duas vezes – uma em Lisboa e outra no Porto – e expulso da diocese. No entanto, para mim, a fase mais criativa e de acção pastoral foi quando era missionário”.

O autor destaca a reacção de D. António Barroso à Lei da Separação, afirmando que “o projecto de Afonso Costa – Ministro da Justiça e responsável pelos assuntos eclesiásticos – passava pela secularização a todo o custo”.

Neste processo, as escolas são transformadas em grandes centros de secularização. É proibido qualquer ensino religioso. “Esta é uma das medidas que vai enfurecer D. António Barroso e a Igreja”, diz Amadeu Gomes de Araújo.

“A expulsão das Ordens Religiosas, a extinção dos feriados religiosos e extinção do ensino religioso irritam o episcopado. Este junta-se, na véspera de Natal de 1910, e preparam uma Pastoral Colectiva que é elaborada pelos bispos de Évora e por D. António Barroso.

Preparada para ser publicada no mês de Fevereiro de 1911, o regime tem conhecimento desse documento e proíbe a divulgação”, acrescenta. O documento acabou por ser lido nas missas.

Segundo este especialista, o Bispo do Porto entendia que estavam a ser defendidos os interesses superiores da Igreja. O Ministro da Justiça, Afonso Costa, chama-o a Lisboa onde lhe fazem um julgamento apressado. Foi apedrejado e apupado na Rua do Ouro. O diploma que o expulsa é datado do dia do julgamento e assinado por ministros que não estavam presentes. No dia 7 de Março de 1911 é julgado, condenado, preso e expulso da sua diocese.

Em 1914, um grupo de deputados manifesta-se contra a «injustiça ao bispo do Porto». “A Lei fundamental da República não permitia que uma pessoa fosse expulsa por toda a vida. A situação não poderia manter-se indefinidamente e voltou à diocese”, explica Amadeu Gomes de Araújo.

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Agência ECCLESIA

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