Responsáveis portugueses admitem que é necessário repensar formação dos sacerdotes
O Pe. Jorge Teixeira da Cunha, Director-Adjunto da Faculdade de Teologia da UCP, considera que “a ocorrência do abuso de crianças não tem que ver com a questão do celibato do clero católico”.
Num artigo escrito para o semanário Agência ECCLESIA, o sacerdote e teólogo português assinala que “a grande maioria dos casos de abuso de crianças é cometido por pessoas que não têm vida celibatária por motivos religiosos”.
“Perante estes, a cultura comum não sente o mesmo efeito de escândalo que sente diante dos clérigos. Por isso, não seria de fazer uma ligação directa entre estes factos”, observa, admitindo que possa haver “um entendimento deficiente do celibato eclesiástico”.
O Pe. Jorge Teixeira da Cunha afirma que “o reconhecimento generalizado da cultura de hoje de uma recusa do abuso de crianças deve ser para a Igreja um motivo de pensar de novo a selecção dos clérigos e a sua educação”.
Segundo este responsável, há o perigo de chegarem ao sacerdócio “pessoas de propósitos menos claros”, pelo que “a vocação ao ministério sacerdotal de que necessita a Igreja em todos os tempos tem de ser pensada dentro de uma cultura nova, a mesma que rejeita a pedofilia”.
Comentando a Carta aos Católicos da Irlanda escrita por Bento XVI, o Director-Adjunto da Faculdade de Teologia da UCP diz que a sucessão de casos de abusos sexuais em vários países “deve dar que pensar a todos, desde o Papa ao último fiel”.
“A pederastia é uma injúria a pessoas vulneráveis por parte de pessoas de suposta qualidade moral mais elevada, o que coloca essa prática num patamar de inusitada gravidade”, afirma.
Defendendo que “quando sanciona o abuso de crianças, o mundo que fica mais cristão e não o contrário”, o Pe. Jorge Teixeira da Cunha considera que “o que se pede à Igreja é uma humildade muito grande para reconhecer a mão esquerda da Providência neste fenómeno”.
Já o Pe. José Manuel Pereira de Almeida, pároco de Santa Isabel (Lisboa) e secretário da Comissão Episcopal da Pastoral Social, sublinha que “não podemos continuar a viver como se nada se passasse. Ignorando. Disfarçando”.
“Mas é importante também não nos deixarmos invadir por uma espécie de suspeição generalizada, de tudo e de todos. A desconfiança corrói”, acrescenta.
Também este responsável afirma que “uma formação plenamente humana dos candidatos ao sacerdócio deve ser procurada e garantida, com uma criatividade que não se compagina com a repetição de velhos esquemas ultrapassados”.
“Vale a pena recordar a expressão que o Papa Paulo VI utilizou nas Nações Unidas acerca da guerra: «Nunca mais!». Que a possamos repetir, com humildade e confiança, sim, mas também com a determinação, acerca deste drama: nunca mais”, conclui o sacerdote e médico.
A esperada Carta de Bento XVI aos católicos da Irlanda, sobre “o abuso de crianças e jovens vulneráveis por parte de membros da Igreja”, assume a vergonha e o remorso do Papa perante estas situações.
A missiva, divulgada no Sábado, 20 de Março, dirige-se às vítimas de abuso e às suas famílias, assinalando que “sofrestes tremendamente e por isto sinto profundo desgosto”.