Celebrar Jesus que «nasce hoje» e para cada um

Tolentino Mendonça, biblista e poeta, apresenta simbologia do Evangelho de São Lucas

Lisboa, 24 dez 2013 (Ecclesia) – O padre José Tolentino Mendonça, poeta e biblista, disse à Agência ECCLESIA que a solenidade do Natal celebra o nascimento de Jesus também nos dias de hoje, como oportunidade de superar a “autossuficiência”.

“Jesus não nasceu, nasce. Jesus não foi apenas contemplado por aqueles personagens que nós colocamos no presépio, cada um de nós é uma personagem do presépio e tem de sentir-se envolvido nesta história sentindo que ele nasceu para si”, assinala o vice-reitor da Universidade Católica Portuguesa.

Segundo o especialista, há quem viva “o mistério do Natal de uma forma muito autossuficiente” dispensando o próprio Jesus, como se “fosse apenas uma conversa”.

“Jesus nasceu para que cada um de nós tenha a possibilidade de nascer mesmo sendo velho, mesmo sentindo que até já viveu coisas contraditórias mas somos chamados a sentir que Jesus nasce hoje para nos fazer nascer neste momento”, precisa.

[[v,d,4355,Textos e símbolos na leitura do padre José Tolentino Mendonça ]]O biblista analisa os relatos dos primeiros capítulos do Evangelho de São Lucas, relativos ao nascimento de Jesus, marcados pela “alegria” e pela atenção ao “marginal”.

“Um dos traços muito belos na narrativa da infância é esta espécie de propagação: eu vi e vou chamar outro a ver e vou dizer o que vi e vou contar e tece-se como uma espécie de polifonia. É como que uma luz que não se pode esconder e a propagação é hoje para nós um compromisso muito grande”, refere.

Tolentino Mendonça sublinha que o evangelista Lucas “situa a mensagem de Deus numa história concreta”, nas “coordenadas do tempo e do lugar”.

Nesse sentido, apresenta-se Deus que “rebusca a história, que a revira mostrando as possibilidades inauditas que a história conserva”, desafiando cada pessoa a viver “a emergência da aventura do divino na história pelo mistério da encarnação de Jesus”.

O padre e poeta madeirense dá como exemplo o canto do ‘Magnificat’, no qual Maria recorda não só o passado mas também “o presente atuante redentor de Deus”.

A cidade de Belém, na qual é situado o nascimento de Cristo, recusou “hospitalidade” a José e Maria, grávida, e segundo Tolentino Mendonça “este não reconhecimento há de marcar a vida de Jesus desde o primeiro instante da sua passagem pela terra”.

O estábulo onde nasceu é um “lugar marginal” e a manjedoura um “lugar da comida, dos impuros”, como os pastores, “os últimos na escala social” mas os que “primeiro chegam, que primeiro acolhem a adorar o Deus que nasce”.

“É a grande alegria do nascimento de Jesus e o anúncio de uma salvação para todos, não para os eleitos mas uma salvação que chega a todos os homens e por isso veem os últimos”, explica o biblista.

Para Tolentino Mendonça, todos estes símbolos dizem “alguma coisa do ministério de Jesus que é o salvador de todos mas que abre o seu coração de uma maneira muito particular para os últimos de cada tempo e de cada sociedade”.

HM/CB/OC 

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Agência ECCLESIA

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