A família merece ser festejada, apoiada, promovida, acarinhada todo o ano, como «estrutura que constitui a base da nossa sociedade» Hoje damos vivas à família! É claro que a família merece ser festejada, apoiada, promovida, acarinhada, os restantes trezentos e sessenta e quatro dias do ano. É que não estamos a falar de uma instituição qualquer. Falamos de uma estrutura que constitui a base da nossa sociedade. É nesta pequena célula que aprendemos a ser filhos e irmãos, a ser pai e a ser mãe; que aprendemos a comer, a chorar, sorrir, a amar, a “ser”; que aprendemos a gatinhar, a falar, a andar, a brincar; que aprendemos a relacionarmo-nos, isto é, a “criar laços” uns com os outros, mesmo descobrindo que os outros são diferentes de nós; que aprendemos a crescer em todas as dimensões; que aprendemos a distinguir o bem e o mal; que aprendemos a ouvir “sim” e ouvir “não”; que aprendemos a ajudar os pais, os avós, os outros; que aprendemos a realizar pequenas tarefas rotineiras; que aprendemos a conviver com a renúncia, o sacrifício, o trabalho; que aprendemos a levantar cedo, vestir e comer rapidamente, sair de casa e ver partir o pai e a mãe; que aprendemos a chegar a casa e ver os pais exaustos de mais uma jornada de trabalho e canseiras; que aprendemos a partilhar as alegrias e tristezas de cada dia; que aprendemos a ouvir regras, conselhos, “ralhetes”; que aprendemos a gerir os conflitos internos (e externos); que aprendemos a gerir as nossas “mesadas”; que aprendemos a ser progressivamente autónomos e responsáveis; que aprendemos, um dia, a desinstalar-nos, a deixarmos o nosso quarto e… quiçá, ajudarmos outros a crescer. Mas também é em células destas que muitas vezes aprendemos, desde cedo, a sentir o rosto deprimente da mãe, os berros do pai, a assistir a zangas permanentes, a sermos mal alimentados, a ficarmos depositados numa creche ou numa escola, a sentirmos que os pais não têm tempo para nós (quando, afinal, não pedimos para nascer), a ficarmos fechados na rua, entregues a nós mesmos, a sentirmo-nos órfãos de pais vivos, a sentirmo-nos “não amados”, a sentirmo-nos a mais nesta vida. Mas também é na família que tantas vezes aprendemos a ser o alvo permanente de todas as atenções, a ter sempre alguém que faça as coisas por nós e a dar-nos muitas coisas para nos entretermos, a ficarmos, desde tenra idade, com muitas actividades e com o tempo muito preenchido para sermos muito cultos, a só ouvirmos a palavra “sim”, a fazermos o que nos apetece, a termos os pais com a grande preocupação de nos libertar das preocupações… Mas também é nesta célula básica da sociedade que aprendemos, muitas vezes, a ver o pai separado da mãe, a conviver com outros “pais”, outras “mães” e outros “irmãos”, a passar fins-de-semana e férias, ora com uns, ora com outros. Mas hoje é o Dia Internacional de todas as famílias. E todas devem estar incluídas nesta homenagem. Viva a Família! E que tal pensarmos em alguns “presentes”, para marcar a nossa “presença”? Que tal os pais oferecerem aos filhos mais tempo, mais atenção, mais responsabilização, mais firmeza, mais “nãos”, mais testemunho de vida, mais “amor”? Que tal os filhos oferecerem aos pais mais “boas acções” (estudo, colaboração nas lidas da casa, simpatia, cordialidade, afecto, …)? Que tal a escola envolver cada vez mais a família no processo educativo, de forma a tornar-se sua colaboradora credível no acto fantástico da educação? E se responsabilizasse mais os alunos? Que tal a comunidade (as empresas, a comunicação social, as pessoas em geral) não contribuir para a destruição da família, e, ao invés, inventar formas de consolidar este núcleo tão fundamental para o crescimento saudável e equilibrado de todos os seus membros? Que tal o Estado, os governantes, os legisladores, promoverem políticas de família que ajudem os casais novos a terem uma casa digna e alguma estabilidade no emprego; que ajudem os agregados mais carenciados; que estimulem a natalidade; que não penalizem (bem pelo contrário!), em termos fiscais, quem é casado ou tem mais filhos; que não aprovem leis facilitadoras do divórcio, mas, ao invés, criem condições e estruturas que promovam a concórdia, a reconciliação? Que tal a Igreja não se cansar de ajudar os jovens a crescer no amor e na sexualidade responsável; não se cansar de preparar bem os noivos para o matrimónio e, depois, de os ir acompanhando “na prosperidade e nas provações”; não se cansar de criar centros de apoio às famílias em dificuldade; não se cansar de recomendar aos casais para que rezem, rezem muito; com não se cansar de gritar bem alto que defende a união entre homem e mulher, num compromisso fiel, estável e duradoiro porque é bom para o casal, para os filhos e para a sociedade (excepto para os advogados)? Acredito que a Família agradece este “mimos”. Ela merece. Viva a Família, sempre! Jorge Cotovio, Secretariado da Pastoral Familiar da Diocese de Coimbra