Celebração dos 50 anos da OCPM

Padre Gabriele F. Bentoglio, Subsecretário do Conselho Pontifício da Pastoral para os Migrantes e os Itinerantes

No contexto da migração mundial hodierna, a Obra Católica Portuguesa de Migrações revela a constante atenção da Igreja, em Portugal, para com os diversos problemas das pessoas em situação de migração. Nestes cinquenta anos de atividade, esta instituição tem destacado o primado e a centralidade da pessoa, a necessidade da tutela e valorização das minorias na sociedade civil e eclesial, o valor das culturas no trabalho de evangelização, o contributo das migrações na pacificação universal, a dimensão eclesial e missionária do fenómeno migratório, a importância do diálogo e do debate no seio da sociedade civil, da comunidade eclesial e entre as diversas confissões religiosas, entre tantos outros elementos igualmente importantes.

O Santo Padre Bento XVI, nas suas frequentes intervenções sobre a problemática – humana, social e religiosa – das migrações, tem dado a este fenómeno, um singular cunho pessoal, através de apelos, declarações e reflexões sobre o tema, que ele definiu como “fenómeno que impressiona pela quantidade de pessoas envolvidas, pelas problemáticas sociais, económicas, políticas, culturais e religiosas que levanta, pelos desafios dramáticos que põe às comunidades nacionais e às internacionais” (Caritas in veritate, 62).

Portugal tornou-se um país de emigração e imigração. Em 2009 contavam-se quase 500 0000 imigrantes sobre um total de mais de 10 milhões de pessoas no país (4,25% da população total). Os fluxos mais recentes de imigrantes em Portugal provêm do Brasil, Roménia, Cabo Verde, Ucrânia, China. Estima-se que em Portugal existem mais de 100 mil irregulares. Por outro lado, residem no estrangeiro, cerca de 4,3 milhões de portugueses ou descendentes de portugueses. Segundo os dados do Observatório da Emigração os principais países em que residem os portugueses são: França, Brasil, EUA, Suiça, Espanha, Alemanha, Reino Unido, Luxemburgo e Venezuela.

O facto de que Portugal se tenha transformado também um país de imigração, deve ser ocasião não só de um chamado à memória histórica, mas, sobretudo um apelo à solidariedade e responsabilidade cristã. O compromisso para com as comunidades portuguesas no mundo não deve prejudicar, aquele de acolher os imigrantes em Portugal.

No contexto da mobilidade humana a Igreja direciona seus esforços para fazer da migração uma escolha e não um constrangimento, um encontro de povos e culturas, e não um choque de civilizações, uma força positiva para o desenvolvimento e participação, e não para exclusão. Portanto, os centros de animação religiosa, social e cultural que congrega membros associados e simpatizantes, pode desempenhar um papel importante nos processos de integração dos migrantes; favorecer a abertura à sociedade de acolhimento, relações de intercâmbio, reciprocidade com as associações civis e instituições governamentais.

O diálogo e a educação intercultural ensinam a respeitar e a apreciar as diversas culturas, ajudam a superar o medo ou a indiferença para com a diversidade. O estrangeiro que cruza as fronteiras tem sede de relações novas e universais, tornando atual o mistério do Pentecostes. É por isso que as Igrejas locais precisam assumir novas formas de pastoral intercomunitária, onde as minorias são respeitadas.

No campo missionário das migrações, o agente de pastoral – sacerdote, religioso ou leigo – trabalha na maturação da comunidade de acolhida e assume a função de “ponte” entre esta e os imigrantes. Portanto, hoje, sentimos a urgência de uma pastoral de formação-promoção que se proponha estabelecer um verdadeiro sentido de igualdade e de diálogo entre culturas e expressões religiosas, que só é possível quando todos estão conscientes de sua identidade específica. Isto permite a passagem do migrante, visto como “objeto” de assistência e proteção, a “sujeito” e protagonista de cultura, capaz de ser ele mesmo.
Atualmente, não são só os cristãos que emigram, mas também outros, de diversas culturas e religiões, e que se estabelecem nos Países mais industrializados. As sociedades nacionais estão, destinadas a tornar-se, interculturais. Outras exigências emergem e outros valores devem ser perseguidos, como o diálogo intercultural e interreligioso. Deverá também nascer um novo conceito de integração para que nossa visão se torne mais universal e missionária. É necessário empenhar-se na formação dos leigos cristãos para envolvê-los no trabalho evangelizador da Igreja. Poderão ser estas as “prioridades” de um novo período de trabalho, que a Obra Católica poderá realizar, como relançamento da sua identidade, depois de cinquenta anos de forte e apreciada atividade. 
Concluo observando que hoje a questão de fundo da solicitude pastoral não é mais “qual pastoral” e “qual missão”, mas “voltada para qual eclesiologia”. Na verdade o imigrante nos obriga a “emigrar” de nós mesmos para construir a comunhão e a universalidade.
 
Padre Gabriele F. Bentoglio 
Subsecretário do Conselho Pontifício da 
Pastoral para os Migrantes e os Itinerantes

No contexto da migração mundial hodierna, a Obra Católica Portuguesa de Migrações revela a constante atenção da Igreja, em Portugal, para com os diversos problemas das pessoas em situação de migração. Nestes cinquenta anos de atividade, esta instituição tem destacado o primado e a centralidade da pessoa, a necessidade da tutela e valorização das minorias na sociedade civil e eclesial, o valor das culturas no trabalho de evangelização, o contributo das migrações na pacificação universal, a dimensão eclesial e missionária do fenómeno migratório, a importância do diálogo e do debate no seio da sociedade civil, da comunidade eclesial e entre as diversas confissões religiosas, entre tantos outros elementos igualmente importantes.

O Santo Padre Bento XVI, nas suas frequentes intervenções sobre a problemática – humana, social e religiosa – das migrações, tem dado a este fenómeno, um singular cunho pessoal, através de apelos, declarações e reflexões sobre o tema, que ele definiu como “fenómeno que impressiona pela quantidade de pessoas envolvidas, pelas problemáticas sociais, económicas, políticas, culturais e religiosas que levanta, pelos desafios dramáticos que põe às comunidades nacionais e às internacionais” (Caritas in veritate, 62).

Portugal tornou-se um país de emigração e imigração. Em 2009 contavam-se quase 500 0000 imigrantes sobre um total de mais de 10 milhões de pessoas no país (4,25% da população total). Os fluxos mais recentes de imigrantes em Portugal provêm do Brasil, Roménia, Cabo Verde, Ucrânia, China. Estima-se que em Portugal existem mais de 100 mil irregulares. Por outro lado, residem no estrangeiro, cerca de 4,3 milhões de portugueses ou descendentes de portugueses. Segundo os dados do Observatório da Emigração os principais países em que residem os portugueses são: França, Brasil, EUA, Suiça, Espanha, Alemanha, Reino Unido, Luxemburgo e Venezuela.

O facto de que Portugal se tenha transformado também um país de imigração, deve ser ocasião não só de um chamado à memória histórica, mas, sobretudo um apelo à solidariedade e responsabilidade cristã. O compromisso para com as comunidades portuguesas no mundo não deve prejudicar, aquele de acolher os imigrantes em Portugal.

No contexto da mobilidade humana a Igreja direciona seus esforços para fazer da migração uma escolha e não um constrangimento, um encontro de povos e culturas, e não um choque de civilizações, uma força positiva para o desenvolvimento e participação, e não para exclusão. Portanto, os centros de animação religiosa, social e cultural que congrega membros associados e simpatizantes, pode desempenhar um papel importante nos processos de integração dos migrantes; favorecer a abertura à sociedade de acolhimento, relações de intercâmbio, reciprocidade com as associações civis e instituições governamentais.

O diálogo e a educação intercultural ensinam a respeitar e a apreciar as diversas culturas, ajudam a superar o medo ou a indiferença para com a diversidade. O estrangeiro que cruza as fronteiras tem sede de relações novas e universais, tornando atual o mistério do Pentecostes. É por isso que as Igrejas locais precisam assumir novas formas de pastoral intercomunitária, onde as minorias são respeitadas.

No campo missionário das migrações, o agente de pastoral – sacerdote, religioso ou leigo – trabalha na maturação da comunidade de acolhida e assume a função de “ponte” entre esta e os imigrantes. Portanto, hoje, sentimos a urgência de uma pastoral de formação-promoção que se proponha estabelecer um verdadeiro sentido de igualdade e de diálogo entre culturas e expressões religiosas, que só é possível quando todos estão conscientes de sua identidade específica. Isto permite a passagem do migrante, visto como “objeto” de assistência e proteção, a “sujeito” e protagonista de cultura, capaz de ser ele mesmo.

Atualmente, não são só os cristãos que emigram, mas também outros, de diversas culturas e religiões, e que se estabelecem nos Países mais industrializados. As sociedades nacionais estão, destinadas a tornar-se, interculturais. Outras exigências emergem e outros valores devem ser perseguidos, como o diálogo intercultural e inter-religioso. Deverá também nascer um novo conceito de integração para que nossa visão se torne mais universal e missionária. É necessário empenhar-se na formação dos leigos cristãos para envolvê-los no trabalho evangelizador da Igreja. Poderão ser estas as “prioridades” de um novo período de trabalho, que a Obra Católica poderá realizar, como relançamento da sua identidade, depois de cinquenta anos de forte e apreciada atividade. 

Concluo observando que hoje a questão de fundo da solicitude pastoral não é mais “qual pastoral” e “qual missão”, mas “voltada para qual eclesiologia”. Na verdade o imigrante nos obriga a “emigrar” de nós mesmos para construir a comunhão e a universalidade.

Padre Gabriele F. Bentoglio,

Subsecretário do Conselho Pontifício da Pastoral para os Migrantes e os Itinerantes

 

 

Partilhar:
Scroll to Top