Francisco deixa apelo a soluções diplomáticas para os conflitos em curso
Nur-Sultan, 13 set 2022 (Ecclesia) – O Papa disse hoje no Cazaquistão que a guerra na Ucrânia é um ato de loucura, pedindo um compromisso global pela paz e pelo reforço do multilateralismo, para construir um mundo “mais estável e pacífico”.
“Chego aqui no curso da louca e trágica guerra originada pela invasão da Ucrânia, enquanto outros confrontos e ameaças de conflito colocam em risco os nossos tempos. Venho para amplificar o clamor de tantos que imploram a paz, caminho de desenvolvimento essencial para o nosso mundo globalizado”, referiu Francisco, no primeiro discurso da sua viagem a este país, onde participa no VII Congresso de Líderes de Religiões Mundiais e Tradicionais.
Falando perante membros do Governo e do corpo diplomático, autoridades religiosas e representantes da sociedade civil, no Auditório da Sala de Concertos Qazaq, o Papa considerou “cada vez mais premente” a necessidade de reforçar o empenho diplomático, em “favor do diálogo e do encontro”.
“O problema de um é hoje problema de todos; quem mais poder detém no mundo, tem maior responsabilidade para com os outros, especialmente dos países colocados em maior crise por lógicas de conflito”, acrescentou.
Francisco declarou que é preciso deixar de lado a lógica das “rivalidades” e o “reforço de blocos opostos”, para que os povos se “entendam e dialoguem”.
“Para fazer isto, é preciso compreensão, paciência e diálogo com todos. Repito: com todos”, insistiu.
A reflexão usou a simbologia da “dombra”, instrumento musical, tradicional do Cazaquistão, referindo que ela representa “as notas de duas almas, a asiática e a europeia” deste país.
“Símbolo de continuidade na diversidade, marca a cadência da memória do país e, face às rápidas mudanças económicas e sociais em curso, recorda a importância de não se descurarem os laços com a vida de quem nos precedeu”, observou Francisco.
O Papa evocou a visita de São João Paulo II ao Cazaquistão, em 2001 – a primeira de um pontífice – e falou de uma “gloriosa história de cultura, humanidade e sofrimento” na antiga república soviética, independente desde 1991.
“Como não lembrar, em particular, os campos de detenção e as deportações em massa que viram a opressão de tantas populações nas cidades e estepes infindas destas regiões?”, precisou.
Francisco desafiou todos os presentes a colocar em primeiro lugar “a dignidade do homem, de cada homem e de cada grupo étnico, social, religioso”, realçando a importância de uma “laicidade sã”, que “reconheça o papel precioso e insubstituível da religião e combata o extremismo”.
A tutela da liberdade, aspiração inscrita no coração de cada ser humano, única condição para que o encontro entre as pessoas e os grupos seja real e não artificial, traduz-se na sociedade civil principalmente através do reconhecimento dos direitos, acompanhados pelos deveres”.
O Papa saudou a abolição da pena de morte e o desarmamento nuclear, no Cazaquistão, bem como o “processo de democratização” que visa reforçar as competências do Parlamento e das autoridades locais.
“É preciso que a democracia e a modernização não sejam relegadas a proclamações, mas confluam num serviço concreto ao povo”, apelou.
A intervenção pediu particular atenção aos trabalhadores e uma aposta no combate à corrupção.
“Este estilo político realmente democrático é a resposta mais eficaz a possíveis extremismos, personalismos e populismos, que ameaçam a estabilidade e o bem-estar dos povos”, afirmou o pontífice.
Francisco lamentou a “generalizada injustiça” que afeta milhões de pessoas em todo o mundo, defendendo a necessidade de “promover o desenvolvimento económico, não com base no lucro de poucos, mas na dignidade de cada trabalhador”.
O Papa frisou as opções em favor de políticas energéticas e ambientais, no Cazaquistão, e no diálogo inter-religioso, considerando-as como “sementes concretas de esperança plantadas no terreno comum da humanidade”.
“Asseguro que os católicos, presentes na Ásia Central desde tempos antigos, desejam continuar a testemunhar o espírito de abertura e diálogo respeitoso que carateriza esta terra”, concluiu.
O Papa, que se deslocou com a ajuda de uma bengala e em cadeira de rodas, foi saudado pelo presidente do Cazaquistão, Kassym-Jomart Tokayev, o qual destacou a promoção do diálogo entre culturas e religiões neste país, com “uma posição única”.
Francisco desloca-se de carro à Nunciatura Apostólica (embaixada da Santa Sé) do Cazaquistão, onde pernoita.
A agenda de quarta-feira começa pelas 10h00 (05h00 em Lisboa), com um momento de oração em silêncio que reúne diversos líderes religiosos, no Palácio da Independência.
Francisco participa ainda na abertura e sessão plenária do VII Congresso de Líderes de Religiões Mundiais e Tradicionais, onde discursa, antes de alguns encontros privados com líderes religiosos; à tarde (16h45), celebra-se a Missa na ‘Praça da Expo’.
OC
Vaticano: Papa chegou Cazaquistão, para encontro com líderes religiosos mundiais (atualizada)