Cavfefe

Octávio Carmo, Agência ECCLESIA

As minhas filhas perguntaram-me se eu tinha uma palavra preferida e a resposta saiu sem hesitações: Eyjafjallajökull. O famoso vulcão da Islândia que tantas dores de cabeça deu aos jornalistas, em 2010.

Esta semana apareceu outra palavra, mais enigmática do que o vulcão da montanha de gelo islandesa, porque, na verdade, ninguém sabe como surgiu nem qual o seu objetivo. A verdade é que a presença do presidente dos EUA numa rede social como o Twitter personifica uma profunda transformação da comunicação e dos focos de atenção mediáticos, que nem sempre acontecem pelos melhores motivos ou com os melhores resultados.

Não duvido que o “cavfefe” teve muito mais impacto nas redes sociais do que a ameaça de abandonar o Acordo de Paris sobre o clima. Isto, só por si, deveria ser assustador, dado que o futuro do planeta e as implicações de uma tal decisão mereceriam, por certo, muito mais atenção do que um lapso, seja lapsus linguae ou calami.

A Igreja Católica tem em curso uma reflexão mundial sobre os jovens, a sua cultura, as suas expectativas para a vida. Um dos grandes contributos que pode dar é dar um passo atrás, parar, ver o quadro geral, respirar fundo, resistir à tentação da hipervelocidade e da hiperinformação. Mostrar o que se passa é muito diferente de compreender o que se passa e, muito mais, de ser capaz de explicar os acontecimentos.

O mundo tem vindo a perder mediadores. Pessoas que se preocupem mais com o quadro geral, com as interações dos vários acontecimentos, com memória dos factos e das pessoas. O imediato não pode ser como o Chronos da mitologia grega, que come os seus próprios filhos. Faz falta um tempo com horizonte de sentido. Não mais tempo, como tantas vezes gritamos, mas outro tempo. Que até pode ser menos para que seja melhor: podemos ir mais longe se não quisermos escolher todos os destinos ao mesmo tempo.

Octávio Carmo

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