Católicos podem imprimir coerência à vida política portuguesa

Presidente da Conferência Episcopal diz que a Igreja tem de «sair das sacristias»

O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa deseja ver mais católicos na vida política, com “coerência” e contrariando a lógica do carreirismo partidário.

“Porque não católicos na política, com coerência, sacrificando mesmo o carreirismo? A Igreja tem de preparar os seus quadros para que católicos, sem rótulos, estejam em ministérios, assembleias e outros locais onde se constrói a sociedade”, refere D. Jorge Ortiga.

Em entrevista à ECCLESIA, o arcebispo de Braga diz que “não se trata criar um partido católico, antes que os católicos se assumam e sejam capazes, no jogo político, manifestarem o que é que Cristo poderia oferecer de novo”.

“Infelizmente, talvez não tenhamos os leigos capazes para, no meio do mundo, apontar deficiências que o governo tem, as expectativas que não estão a ser cumpridas, as promessas eleitorais que são feitas e que não sei para onde vão”, lamenta.

D. Jorge Ortiga afirma que “em Portugal, não há política, no sentido genuíno da palavra”, criticando a predominância de “interesses partidários e carreirismo”.

“Há uma submissão exagerada a um líder, às orientações do partido. E deveria haver liberdade e responsabilidade da parte de todos”, atira.

Nesta análise, o presidente da CEP admite que a Igreja se fecha “demasiado dentro de portas dos templos”, convidando os seus membros a sair das “sacristias”.

O arcebispo de Braga considera que o episcopado católico não faz “política”, mas deve “apresentar a Doutrina Social da Igreja” perante a actual situação de crise.

“Não apenas eu, mas todos os bispos, no momento oportuno, colocamo-nos do lado do povo para o defender seu interesse. E ninguém nos pode condenar por isso, dizendo que estamos a fazer política”, defende.

Este responsável considera que os católicos têm de participar na “construção da sociedade” e deixa um reparo: “Muita gente gostaria que nos fechássemos dentro das igrejas, numa dimensão intimista. A religião parte do interior. Mas se não tiver uma repercussão no exterior, é vazia”.

Quanto à situação do país, D. Jorge Ortiga espera um momento de viragem, “quando os interesses pessoais derem lugar à responsabilidade recíproca”.

“A alternativa está numa consciência nova, assente nos princípios da Doutrina Social da Igreja da solidariedade e do bem comum”, observa.

Para este responsável, nesse momento “as desigualdades não serão tão grandes; e não haverá pessoas com duplo e triplo emprego, antes a sensibilidade para reconhecer que o outro tem uma dignidade idêntica à minha e necessita de poder trabalhar e ter direito a uma vida digna”.

Por outro lado, acrescenta, “há muita gente também que se não trabalhar e puder ter o que precisa para viver, não se interessa por isso”.

“A educação para a responsabilidade no trabalho, que a todos enriquece, é fundamental. E faz parte da alternativa que a Igreja tem proposto”, indica D. Jorge Ortiga.

O presidente da CEP fala ainda das recentes alterações propostas pelo Governo para o financiamento do ensino particular e cooperativo, considerando que este sector “não só tem o seu direito e deve ser promovido, como deveria ser acolhido”.

A entrevista a D. Jorge Ortiga pode ser lida integralmente no portal da Agência Ecclesia e vista no programa ECCLESIA (RTP2, 18h00) do dia 29 de Dezembro, Terça-feira.

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