Delegação portuguesa marca presença nos «Dias Sociais» que decorrem na Polónia
“Solidariedade, o desafio para a Europa” é o tema que reúne meio milhar de católicos europeus no “berço” do “Solidariedade”, o movimento sindical polaco que chegou a ganhar as eleições parlamentares em 1997.
Pela primeira vez, a Comissão dos Episcopados da Comunidade Europeia (COMECE) promove os “Dias Sociais Católicos para a Europa”. Decorrem em Gdansk, no Norte da Polónia, entre os dias 8 e 11 de Outubro, e serão uma ocasião para definir estratégias para o exercício eficaz da solidariedade. Ou seja, para propor “medidas políticas” que incluam a efectiva “atenção ao outro, em todas as dimensões”.
A presidir à delegação portuguesa que participa nesta iniciativa da COMECE, D. Carlos Azevedo defende a oportunidade deste debate, que acontece em tempos de crise, de falência de modelos de desenvolvimento integral e, por outro lado, do crescente apelo a modelos éticos para a economia. “É o contributo que homens e mulheres da Igreja podem dar para uma solidariedade integral, que abarca todos, sem excluir ninguém, que seja mais plena e que considere todos os aspectos da pessoa humana”, defende o Presidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social, em declarações à Agência ECCLESIA. No actual contexto, é necessária “uma solidariedade verdadeiramente holística, numa concepção o mais abrangente possível. Portanto – continua – mais católica, mais universal em todas as dimensões”.
Para atingir este objectivo, D. Carlos Azevedo defende uma conversão de comportamentos, visíveis na proximidade, na vizinhança, mas também uma transformação das estruturas. Daí a urgência da intervenção na definição de políticas para a Europa, a concretizar nomeadamente pela presença de cristãos no Parlamento Europeu ou nos vários órgãos de decisão europeia. D. Carlos Azevedo pede-lhes que reclamem o lugar de uma ética cristã, não para valorizar a “pujança da Igreja Católica”, antes para vingar “um humanismo profundo”. “Nós temos consciência que uma visão antropológica, ética, cristã vai mais longe num humanismo. E esse é que nos queremos garantir em nome do futuro das gerações”, sublinha D. Carlos Azevedo.
A necessidade de uma pedagogia da solidariedade decorre, para o Presidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social, dos muitos exemplos da prática de solidariedade a partir da Europa (como o demonstram campanhas de ajuda diante de catástrofes naturais, por um lado, e, por outro, os abundantes exemplos de voluntariado social e missionário) e da indiferença de muitas gerações à organização política das sociedades. “Se as pessoas estão ausentes do debate político – e muitas gerações estão-no, também entre nós – isso significa que a política, a organização da vida em comum e do bem comum não é capaz de cativar as pessoas porque em vez de estar ao serviço do bem comum está ao serviço dos próprios ou de interesses que defendem, e não de todos”.
Delegação portuguesa
Portugal participa neste debate Europeu com diferentes especialistas na área social. Académicos, assistentes sociais, e dinamizadores de iniciativas que reinventem a solidariedade integram a delegação portuguesa. É composta por 11 elementos, que alimentam a expectativa de, a partir deste encontro em Gdanks, encontrarem novas realizações da solidariedade nos trabalhos de todos os dias e naqueles que exigem a solidificação das relações entre os países da Europa.
Bernardino Silva, que pertence ao grupo de trabalho da COMECE para a organização dos primeiros “Dias Sociais Católicos para a Europa”, é membro da Comissão Nacional das Semanas Sociais e Presidente da Comissão Justiça e Paz de Braga, entre outros compromissos sociais. Defende a oportunidade de “olhar a Europa como uma só”. Diante dos problemas deste tempo, afirma a importância de uma “uma resposta solidária e forte”. Daí as “enormes” expectativas para a primeira edição dos Dias Sociais Católicos para a Europa.
Isabel Costa, de Braga, deseja que do encontro resulte “mais do que um belo slogan”. Porque a é urgente consolidar uma “uma atitude global solidária” que ofereça “grandes ideias” a “uma Europa tão heterogénea ao nível social, cultural e mesmo económico”
O aprofundar o tema da solidariedade e conhecer preocupações e formas de intervenção de pessoas de outros países da Europa que se movem neste campo é o objectivo de Henrique Joaquim. Professor universitário, investigador e consultor de Organizações de Acção Social, pretende assim “estar mais preparado” para o trabalho que desenvolve “quer na investigação quer no apoio a organizações, grupos e movimentos de acção social no campo da Igreja Católica”.
Ana Patrícia Fonseca, que coordena a Plataforma de Voluntariado Missionário na Fundação Evangelização e Culturas, afirma o “privilégio” de participar nos primeiros Dias Sociais Católicos para a Europa. “No tempo da globalização, é urgente reflectir, à luz do Evangelho e da Doutrina Social da Igreja, de que forma as interdependências que marcam as relações entre os países se podem tornar relações solidárias e fraternas”. Para Patrícia Fonseca, “este encontro poderá marcar uma nova época, a da solidariedade global, que busca e concretiza a promoção integral de todos os homens e do Homem todo”.
Por sua vez, para Clara Cotrim, que integra a equipa que dinamiza o Projecto Igreja Solidária do Patriarcado de Lisboa, “o momento que atravessamos encerra uma oportunidade de mudança” e “a humanidade percebeu que a sua sobrevivência depende da criação de um novo modelo de desenvolvimento, um modelo de desenvolvimento mais sustentável do que o actual, assente na mudança individual e na acção em comunidade”. Exemplo disso é esta iniciativa, que decorre na Polónia. “Como elemento da equipa que está ajudar a construir o Projecto Igreja Solidária, vou procurar partilhar experiências e encontrar iniciativas que proponham modelos inovadores de acção em comunidade, com unidade, que possam ser replicados na nossa Igreja Solidária”.
Integrado também em iniciativas sociais, nomeadamente na paróquia do Campo grande, Hugo Caixaria espera “descobrir novos olhares, novas formas de perceber o social”. “Espero dos Dias Sociais Europeus uma interpelação: entre a exigência de um fazer e ser cada vez melhor e a ternura de um cuidado assumindo como pessoa central a figura de Jesus Cristo”.
Integram também a delegação portuguesa Joana Rigato, vice-presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz, João Meneses e Helena Gata, da TESE, e Paulo Rocha, da ECCLESIA.
O Programa
A primeira edição dos “Dias Sociais Católicos para a Europa” debate o desafio da solidariedade no Continente a partir de seis vectores: a Doutrina Social da Igreja, a pessoa humana, a família, o modelo sócio-económico europeu, os fundamentos da solidariedade e o bem comum mundial. Seis temas, apresentados, na sua maioria, por académicos, aos quais se seguirão intervenções dos participantes e debates. Em cada um dos temas, a organização do encontro propõe também que se apresentem boas práticas, exemplos concretos de solidariedade na Europa.
Dos trabalhos em Gdansk, entre os dias 8 e 11 de Outubro, resultará um Manifesto onde se afirmam os princípios orientadores do exercício da solidariedade, na Europa. Esse Manifesto será uma forma de fazer chegar o pensamento de católicos de toda a Europa às Organizações Europeias e motivará, nas várias delegações, novas realizações da solidariedade.
Solidariedade, um desafio para a Europa
Tarde de quinta-feira, dia 8
Sessão de abertura
Eucaristia, presidida pelo Cardeal Dionigi TETTAMANZI (Arcebispo de Milão)
Sexta-feira, dia 9
1. Introdução.
O conceito e a realidade da solidariedade na União Europeia – uma reflexão a partir da Doutrina Social da Igreja
D. Diarmuid MARTIN, Arcebispo de Dublin
2. A Pessoa Humana.
A pessoa humana e os seus direitos – meio e destinatário da solidariedade
Maureen JUNKER-KENNY, Professor de Teologia (Irlanda)
Mr.Tunne KELAM, Membro do Parlamento Europeia (Estónia)
Mr. Alojz PETERLE, Membro do Parlamento Europeu, Antigo Primeiro-Ministro da Eslovénia
Moderatora: Joana RIGATO, Vice-Presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz ((Portugal)
3. As famílias na Europa.
As famílias, células vitais da sociedade, têm necessidade da solidariedade da Europa
Gøsta ESPING-ANDERSEN, Professor de Sociologia, (Dinamarca)
Anna ZÁBORSKÁ, Membro do Parlamento Europeu (Eslovénia)
Rimantas DAGYS, Presidente da Comissão Parlamentar para os Assuntos Sociais (Lituânia)
Moderadora: Elena CURTI, Editora-adjunta de The Tablet (Reino Unido)
4. Um modelo sócio-económico europeu.
O modelo social e económico europeu (trabalho, pobreza, protecção social, regulação económica)
Elmar BROK, Membro do Parlamento Europeu (Alemanha)
Anne-Laure DE COINCY, Secretariado Geral dos Assuntos Europeus (França)
Ing. Lubomír MLČOCH, Professor de Economia (República Checa)
José T. RAGA GIL, Professor de Economia (Espanha)
Moderador: Jan de VOLDER, Comunidade de Santo Egídio (Bélgica)
Missa presidida por D. Piotr JARECKI, Vice-Presidente da COMECE e Bispo Auxiliar de Varsóvia
Sábado, dia 10
5. Fundada na Solidariedade
A União Europeia – Uma comunidade política e o seu necessário fundamento na solidariedade
M. Jacques BARROT, Vice-Presidente da Comissão Europeua (França)
M. Jan OLBRYCHT, Membro do Parlamento Europeu (Polónia)
Mme Maria MARTENS, Antigo membro do Parlamento Europeu (Países Baixos)
Modérateur : Dr. Neven ŠIMAC, Vice-Presidente do Centro de Estudos Universitários Robert Schuman e do “Círculo de Académicos Cristãos” (Croácia)
6. O bem comum mundial
O bem comum mundial e a responsabilidade da Europa diante do mundo e das gerações futuras
Paul DEMBINSKI, Director do Observatorio das Finanças (Suíça)
M. Simone MORANDINI, Fundação Lanza (Italia)
Dr. Dominika Alžbeta DUFFEROVÁ, Universidade de Trnava (Eslováquia)
Modérateur : Prof. Mag. Dr. Ingeborg GABRIEL, Universidade de Viena (Austria)
– Testemunhos e celebração Ecuménica
Manhã de Domingo, dia 11
Sessão de encerramento
Conferência de Imprensa
Missa de encerramento presidida por D. GŁÓDŹ, Arcebispo de Gdansk