Catequese: «Nós estamos a mudar não só os materiais catequéticos, estamos a mudar todo o horizonte» – Padre Rui Alberto

Sacerdote salesiano salienta que «trabalho de discernimento dos bispos» vai ser recebido e acolhido «com o seu tempo»

Lisboa, 21 fev 2024 (Ecclesia) – O padre Rui Alberto, da equipa que desenvolveu novos conteúdos para a catequese em Portugal, disse que o objetivo é promover outro “horizonte” para a transmissão da fé às novas gerações.

“Acho que hoje há um consenso grande na Igreja, dos bispos ao catequista mais de base, de que a catequese não é instrução religiosa. É uma verdadeira iniciação, esta experiência um bocadinho alternativa que é acreditar no Evangelho. E, por isso, a forma de fazer tem de se adaptar a isso”, explicou o sacerdote salesiano, em entrevista à Agência ECCLESIA.

“Estas propostas continuam centradas no grupo: um pequeno grupo, com relações entre as pessoas, onde há fortes interações entre um adulto crente, a que chamamos o catequista, e um grupo”, acrescenta.

Para o padre Rui Alberto, reforçar a experiência da proximidade do outro, do grupo, é “a aposta” mas pode ser “a fragilidade” devido a este “tempo de individualismo”, onde cada um “sentir-se-ia feliz à volta do seu telemóvel, sozinho”, mas isso “nem humanamente leva a lado nenhum e num horizonte de fé, muito menos”.

“A nossa tentativa é oferecer algo que para muitos miúdos será uma novidade, esperemos que uma boa novidade, que é a possibilidade de haver um espaço onde a vida se cruza e se encontra. E onde eu, a crescer, me cruzo com outros, da minha idade, animado, servido por um catequista, tal adulto crente que acompanha; não estamos a inventar nada de raiz, estas opções resultam de experiências bem-sucedidas nos últimos anos aqui e um pouco por todo o mundo”, desenvolveu.

O especialista observa que a maior parte das crianças e adolescentes vivem em famílias, “mais comprometidas com a fé, mais afastadas, há um pouco de tudo”, mas existe uma “consciência grande” de que há aqui a necessidade de uma “ponte mais qualificada entre a catequese, enquanto instituição, enquanto prática, e as famílias concretas”.

A Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) aprovou, em 2022, um ‘Itinerário de Iniciação à Vida Cristã das Crianças e dos Adolescentes com as Famílias’ e recebeu, esta segunda-feira, do Secretariado Nacional da Educação Cristã (SNEC), os primeiros recursos catequéticos do itinerário, da coleção que tem como nome global ‘Emaús’, que apontam a uma preparação alargada e menos ligada ao percurso escolar dos catequisandos.

Como é que se propõe o Evangelho de sempre? Essa é uma pergunta que em todos os séculos nos aflige, nos incomoda, nos impela a ser criativos”

O padre Rui Alberto, que faz parte equipa envolvida na elaboração destes materiais em colaboração com o SNEC, adianta que têm o “clássico guia do catequista”, um conjunto de indicações para que esse agente pastoral possa implementar com o seu grupo, e o livro do catequisando, onde a “dimensão gráfica, a dimensão lúdica, estão ao serviço daquilo que deve ser uma experiência de grupo”.

“Talvez a inovação maior dos materiais que temos feito é esta. A ideia é criar num grupo um espaço de interações fortes, que é algo que infelizmente não existe tanto noutros lugares de existência, mas onde, nessas interações fortes, no contacto do catequista e com os documentos da fé há um processo de aprendizagem. Há aqui qualquer coisa, há aqui uma vibração intensa, há aqui qualquer coisa de especial a acontecer”, precisou.

O novo itinerário de inspiração catecumenal proposto pelos bispos portugueses passa a ter quatro tempos diferentes: ‘o Despertar da Fé, a Iniciação à Vida Cristã, o Aprofundamento Mistagógico e o Discipulado Missionário’.

“Até aqui tínhamos os dez anos de catequese, havia conteúdos diferentes, em profundidade diferentes, mas no fundo havia uma sequência do primeiro ao décimo ano. Os nossos bispos, no seu discernimento, propuseram quatro tempos que são qualitativamente diferentes”, salientou o sacerdote Salesiano.

O padre Rui Alberto afirma que não estão a mudar “só os materiais catequéticos”, mas estão “a mudar todo o horizonte, todo o quadro”, num processo que acredita “vai levar anos”, como em tudo na vida existe quem “está ali cheio de fominha para começar já a trabalhar” e outras paróquias vão ver como “é que isto chega, com mais tempo”.

“Isto não é apenas uma novidade editorial. Há aqui um trabalho de discernimento dos nossos bispos que irá sendo recebido e acolhido com o seu tempo”, acrescentou, no Programa ECCLESIA, transmitido hoje, na RTP2.

HM/CB/OC

Igreja/Portugal: Catequese com primeiros recursos inspirados no «Itinerário de Iniciação à Vida Cristã»

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