Nas Jornadas Nacionais de Catequese presidente da Equipa Europeia de Catequese defendeu linguagem «clara, simples e próxima da experiência humana» e necessidade de «purificar a fé de pesos supérfluos»

Fátima, 18 out 2025 (Ecclesia) – O padre Carl-Mario Sultana, da arquidiocese de Malta, defendeu hoje que a catequese “deve falar ao coração das pessoas, não apenas à mente” e que esta “não pode ser reduzida a fórmulas ou doutrinas”.
“A fé não pode ser reduzida a fórmulas ou doutrinas”, devendo antes ser “vivida e testemunhada nas escolhas quotidianas”, afirmou o presidente da Equipa Europeia de Catequese aos participantes nas Jornadas Nacionais de Catequistas 2025, que decorrem em Fátima até domingo.
Para o sacerdote, o desafio atual consiste em “purificar a fé dos pesos supérfluos e regressar ao essencial”.
“Devemos falar do ‘deserto contemporâneo’ em que as pessoas vivem e ajudá-las a regressar da dispersão moderna à terra prometida da fé”, afirmou, defendendo uma linguagem “clara, simples e próxima da experiência humana”.
Recorrendo ao exemplo dos profetas do Antigo Testamento e dos místicos cristãos, que “falavam ao coração das pessoas e as acompanhavam na transformação interior”, esta atitude, indicou, deve inspirar a missão dos catequistas atuais.
“O verdadeiro anúncio cristão não é um discurso intelectual, mas uma palavra que desperta a espiritualidade e transforma a vida”, disse.
Defendendo uma catequese “centrada no acompanhamento”, o padre Sultana destacou a necessidade de formar evangelizadores “na arte de caminhar ao lado dos fiéis” e recordou o Papa Francisco que falava da necessidade de “proximidade, compaixão e paciência”.
Nas Jornadas de Catequistas, reúne 1100 catequistas das 20 dioceses portuguesas em torno do tema «Credo: A fé celebrada e testemunhada», o sacerdote afirmou que a Igreja precisa de “mudar de paradigma” na evangelização e na catequese, aproximando-as mais da experiência concreta das pessoas.
Na conferência intitulada «Credo: A fé em cada encruzilhada», o sacerdote de Malta explicou que o conceito teológico de fé possui duas dimensões inseparáveis: o conteúdo da fé (fides quae) e a forma pessoal de acreditar e viver essa fé (fides qua).
O responsável recordou que, ao longo da história, a Igreja enfrentou desafios que obrigaram a repensar a transmissão da fé, entre eles, destacou o papel dos Concílios de Niceia, Constantinopla, Éfeso e Calcedónia, que definiram os fundamentos doutrinais do cristianismo, e a mudança que se seguiu.
“Passámos de uma fé proclamada na experiência viva da comunidade para uma fé expressa sobretudo através do Magistério e das fórmulas oficiais”.
O padre Carl-Mario Sultana observou ainda que essa transição, embora necessária, “empobreceu a dimensão vivencial da fé”, criando um desequilíbrio entre o conhecimento doutrinal e a prática cristã.
“Durante séculos, a Igreja enfatizou o conteúdo da fé, mas esqueceu a dimensão existencial: como viver o que se acredita”, afirmou.
O responsável sublinhou ainda que a “revelação de Deus não é um evento do passado, mas uma autorevelação contínua na história e na experiência humana”: “A catequese deve ligar-se à vida real e às libertações concretas que Deus continua a operar hoje”, concluiu.
LS