Castelo de Vide ganha vida com as festividades da Páscoa que os castelovidenses teimam em não perder. As celebrações têm início no Domingo de Ramos com a bênção e a Procissão de Cristo a caminho do calvário. Na Quarta feira tem lugar a «visitação» às igrejas de Castelo de Vide. Na Sexta feira é organizada a Procissão do Enterro do Senhor, dia em que também é aberta ao público. Apenas nesta altura do ano se celebra aqui o culto, onde também se pode apreciar a imagem de Nossa Senhora das Dores, que se encontra exposta neste local. Mas a grande festa está guardada para o Sábado. Pela manhã chegam à vila muitos lavradores, com os seus rebanhos para a frente da Igreja Matriz e esperam que estes sejam benzidos, na tradicional Bênção dos Borregos, onde cabem ainda ovelhas e cabritos. Os animais são depois vendidos na praça, cuja carne vai ser preparada para o almoço de Domingo. Noutros tempos, as pessoas do campo vinham à vila com os seus rebanhos para que estes fossem benzidos. “Esta é um rito judaico”, explica o pároco Tarsício Fernandes Alves à Agência ECCLESIA. Sendo uma tradição antiga, ainda hoje se celebra, porque “é um sinal de tolerância entre os cristão, que importa conservar” De noite tem lugar a Vigília Pascal e a Chocalhada. Na Igreja Matriz, tem início a Vigília Pascal. As pessoas “não entendiam o que isto era”, explica o Pe. Tarsício Alves, por isso muitos tentaram acabar com este rito. Mas “nós queremos até promovê-lo, porque é um sinal de outros tempos, a forma como os nossos antepassados celebravam a Ressurreição”. Durante a celebração da Vigília Pascal os chocalhos soam três vezes, “na altura do glória, no aleluia e nos Santos”. Este chocalhar estende-se às vezes “por dois ou três minutos, mas as celebrações são muito ordeiras e as pessoas respeitam e dão sentido ao que se celebra”, garante o pároco. No final da celebração “voltam a chocalhar a par da banda percorrendo as ruas da vila, levando a alegria a todos”. Também dentro da Igreja, crianças e os fiéis, enchem o templo com o chocalhar ao mesmo tempo que se cantam cânticos de louvor de Ressurreição, numa noite que se exprime nas vozes e nos tons festivos, o grande entusiasmo. No Domingo de Páscoa tem lugar a Procissão da Ressurreição. Neste dia, também conhecido pela Festa das Flores, é marcado pela mais imponente de todas as procissões do concelho: a Procissão da Ressurreição. Nela participam todos os mestres de ofícios, entidades e associações de Castelo de Vide, fazendo parte dum protocolo com mais de 400 anos. Há vestígios de associações que remontam à Idade Média, daí a grande tradição. “É um acontecimento que não se pode perder”, sugere o pároco. A procissão percorre algumas ruas da vila, regressando depois à Igreja matriz, onde tem lugar a Eucaristia “onde participam mesmo muitas pessoas de fora”. Antigamente era habitual, no momento da elevação, em que o celebrante erguia o cálice e a hóstia, escutava-se o «toque de silencio», executado por um bombeiro. Actualmente é a fanfarra que dá a boa notícia da Ressurreição. No final da Eucaristia, volta a formar-se cortejo dirigindo-se à Câmara Municipal, onde decorrem os “cumprimentos finais”, entre o povo e as entidades oficiais. Na Segunda-Feira, celebra-se também o dia do Município. É habitual que todos os Castelovidenses, e não só, se desloquem até à Capelinha da Senhora da Luz e assistam à Missa e à Procissão, celebrando assim a Festa da Senhora da Luz. Munidos de farnéis, onde não falta o cabrito ou o borrego assado, o tradicional cachafrito – cabrito frito – o folar, os bolos e queijadas, as pessoas sobem às cercanias porque faz parte da tradição, neste dia, lanchar no campo, principalmente junto à Barragem de Póvoa e Meadas. “É uma forma de encerrar as festividades da Páscoa”. O padre Tarsício Alves está na paróquia de Castelo de Vide há cerca de cinco anos e acompanha atentamente as celebrações e iniciativas pascais, com grande incentivo para que “as tradições naturais que a populações foram ganhando ao longo dos anos, como é o caso da chocalhada, não se percam”. As celebrações não perdem a sua simbologia cristã, “porque não ficam pelo folclore”. As celebrações da Páscoa são “o ponto alto de todos os festejos”, sublinha o Pe, Tarsício Alves, “trazendo a Castelo de Vide muita gente de fora”, porque os Castelovidenses são muito “zelosos na conservação das tradições”.