“Casas de Deus”, escolas de comunhão

A igreja entendida como «local de reunião» não é necessário «em absoluto», disse o cónego António Assunção durante uma intervenção nos “Serões de Arte e Cultura”, do Instituto Católico de Viana do Castelo, cujo tema em debate se prende com “Casas de Deus: escola de comunhão”. A sustentar aquela afirmação, aquele sacerdote da diocese de Portalegre–Castelo Branco recordou os grandes encontros das multidões com o Papa João Paulo II em que praças, estádios ou avenidas, com «construções efémeras », se tornavam «lugares de encontro com o nosso Deus». Sem deixar de realçar o valor de um «lugar estável para o encontro com Deus», sublinhou que «na vivência cristã a prioridade não é dada ao edifício, mas à co- munidade que lá se reúne», e que o grande desafio dos dias de hoje para as comunidades cristãs é que, «antes da casa da igreja, é necessário que aconteça Igreja». Para responder à questão “Onde O podemos encontrar?”, o cónego António Assunção fez um percurso pelos textos sagrados e pela literatura rabínica, para concluir que «o Emanuel é a verdadeira presença de Deus» no seio da humanidade, o «verdadeiro lugar de contacto entre o Pai e os homens»; por conseguinte, «vamos encontrá-l’O no meio de nós». Esta presença de Deus no meio dos que se reúnem em seu nome é permanente, disse aquele liturgista, assinalando que os portugueses são os únicos que na liturgia eucarística à saudação «O Senhor esteja convosco » respondem «Ele está no meio de nós», tendo inaugurado uma «nova teologia da presença de Deus». Assim, a Igreja «não é mais um lugar geográfico, mas a reunião dos seus membros », podendo «qualquer ponto da terra ser uma Igreja viva e onde se vive com Deus». Jesus Cristo, por contraste com o Antigo Testamento, veio anunciar que «existe algo mais que o templo», até então lugar estável da presença de Deus. A palavra «mais revolucionária», a propósito de culto e celebração, refere-se à adoração do Pai «em espírito e verdade », sendo que o «rasgar do véu do templo» é o acontecimento que permite ao Povo o acesso ao sagrado até aí vedado. Recuado na história da salvação, já na pregação profética se refere que «a ida ao templo não era tudo», aliás, pode até significar hipocrisia, uma vez que a relação com Deus «deveria manifestar-se pela conversa e no amor pelos outros». O Antigo Testamento, assinalou, está «impregnado do desejo da presença de Deus», um desejo que se ia materializando em diversos momentos através de sinais, objectos e edifício: da Arca da Aliança ao templo de Jerusalém. Depois da reconciliação da Igreja com os artistas e desta reflexão sobre o local de encontro com Deus, este ciclo de debates sobre as manifestações da presença de Deus termina, no próximo dia 17 de Maio, com uma abordagem por uma casal de arquitectos, Isabel Castro e Filipe Fontes, acerca da “Arte do espaço”. DM/Paulo Gomes

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