Carta do Papa aos católicos chineses na Páscoa

Documento será entregue, em primeiro lugar, às autoridades de Pequim, como gesto de cortesia A anunciada carta de Bento XVI aos católicos da China será publicada na próxima Páscoa, encorajando a comunidade cristã e pedindo a liberdade religiosa no país. A revelação foi feita pelo Bispo de Hong Kong, Cardeal Joseph Zen A missiva será entregue às autoridades de Pequim, dias antes da sua divulgação, “como gesto de cortesia”, acrescentou este responsável. O Vaticano manifestou no passado dia 20 de Janeiro o desejo de trabalhar para uma “normalização das relações” com a China, a vários níveis. Este foi o principal resultado de uma reunião de alto nível, que juntou e responsáveis da Secretaria de Estado e da Congregação para a Evangelização dos Povos, bem como prelados de Hong Kong, Taiwan e Macau. O encontro sobre a situação da Igreja Católica na China foi presidido pelo Cardeal Tarcisio Bertone, Secretário de Estado do Vaticano. Em cima da mesa estiveram “os problemas eclesiais mais graves e urgentes, que esperam uma adequada solução em relação aos princípios fundamentais da constituições divina da Igreja e da liberdade religiosa”. Para o restabelecimento de relações diplomáticas, a China exige que o Vaticano deixe de reconhecer Taiwan como país independente (obtendo aparentemente o consentimento do Vaticano, neste ponto) e que o Vaticano aceite também a nomeação dos bispos chineses por parte da Associação Patriótica Católica (APC), controlada pelo Estado. Nesta questão, contudo, a posição da Santa Sé tem-se mantido inalterável. Embora o Partido Comunista Chinês se declare oficialmente ateu, a Constituição chinesa permite a existência de cinco Igrejas oficiais (Associações Patrióticas), entre elas a Católica, que tem 5,2 milhões de fiéis. Segundo fontes do Vaticano, a Igreja Católica “clandestina”, ligada ao Papa e fora do controlo de Pequim, conta mais de 8 milhões de fiéis. A APC foi criada em 1957, para evitar “interferências estrangeiras”, em especial do Vaticano, e para assegurar que os católicos viviam em conformidade com as políticas do Estado. A partir da década de 80 do século passado, a APC passou a procurar a aprovação do Vaticano para os seus Bispos, em segredo. Hoje, estima-se que cerca de 90% dos Bispos da APC sejam reconhecidos pelo Vaticano, fruto de um acordo de cavalheiros, que dava ao Papa a última palavra sobre qualquer candidato à ordenação episcopal e que foi quebrado de forma clara. Nessa altura, a Santa Sé adiantou que Bento XVI iria escrever uma carta aos católicos do país, cujo número não pára de crescer, aludindo à história conturbada da Igreja na China e sublinhando o “luminoso testemunho oferecido pelos Bispos, sacerdotes e fiéis que, sem cederem a compromissos, mantiveram a fidelidade à Sé de Pedro, muitas vezes à custa de graves sofrimentos”. A questão de fundo reside, precisamente, no heroísmo dos fiéis da Igreja que, na China, permanecem fiéis ao Papa e a Roma. Vários contactos informais têm sido desenvolvidos desde que Bento XVI sucedeu a João Paulo II, fazendo do estabelecimento de relações diplomáticas com a China uma das suas prioridades, algo que a APC vê como um perigo para a organização. A chave de solução poderá estar no processo de nomeação de Bispos para a China, mas nunca desautorizando a Santa Sé. Qualquer cedência perante os homens do regime chinês poderia ser mal interpretada por todos aqueles que, ao longo de décadas, sofreram perseguição, foram presos ou enviados para “campos de reeducação”, celebrando às escondidas, com receio das autoridades.

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