Carta do novo bispo auxiliar de Braga à diocese de Vila Real

Ao Senhor D. Joaquim Gonçalves
Ao Senhor D. Amândio,
À querida Diocese de Vila Real

Na passada segunda feira, quando preparava a Missa do dia, chamou-me especialmente a atenção a primeira leitura que contava a história de um Abraão que, aos setenta e cinco anos, é convidado por Deus a deixar os seus amigos e familiares, usos e costumes, atravessar grande parte da Ásia Central e dirigir-se à desconhecida Terra de Canaã. Mal eu imaginava que, passadas poucas horas, um contacto da Nunciatura Apostólica me iria pedir algo de semelhante: deixar o meu ministério habitual e aceitar exercer o de Bispo.

Como Abraão, acabei por aceitar partir, confiado na graça de Deus. É verdade que, embora algo mais novo que Abraão, na minha idade, humanamente falando, não apetecem muito as grandes mudanças. Mas aceito esta do Episcopado, como Bispo Auxiliar de Braga, com o título da extinta Diocese de "Case Mediane", no norte de África, em espírito de amor à Igreja e de obediência ao Santo Padre. Aceito ainda porque o Senhor, ao longo de toda a minha vida, nunca me permitiu tornar-me demasiadamente sedentário: foi assim com os tempos da estimadíssima Diocese de Lamego, donde sou natural, como o foi também nesta Diocese de Vila Real, após a ordenação pelo inesquecível D. António Cardoso Cunha: não durou muito a minha vida de Pároco, de que tanto gostei, como não demorou a de estudante, a de professor e, fundamentalmente, as funções que ultimamente tenho desempenhado.

No exercício do meu sacerdócio quase só encontrei gente boa e pessoas amigas. Neste momento, até me sinto confuso: a maior parte das pessoas fez mais por mim do que eu por elas. Pouco mais me resta que reconhecê-lo. Mas quero que fique expressa a minha simpatia pelas Paróquias de Lordelo e Lamas de Ôlo, bem como por muitas outras com quem contactei ocasionalmente, e pelos organismos pastorais com quem colaborei, mormente ACR, Secretariado da Juventude, Convívios Fraternos, Pastoral da Cultura e ACEGE. Jamais me esquecerei dos meus três anos como Capelão Militar no RI 13 e dos Bombeiros da Cruz Verde, bem como a simpatia que colhi nas muitas Escolas por onde passei: desde a antiga do Magistério Primário, até à Superior de Enfermagem e às Secundárias de São Pedro e, ultimamente e durante muito mais tempo, de Camilo Castelo Branco, o por todos respeitado «Liceu de Vila Real».

Sempre fui bem tratado pelas autoridades e pela comunicação social. O mesmo se diga do mundo do pensamento, das artes e da cultura. Enumerá-los a todos seria impossível. A todos agradeço a deferência que tiveram para comigo.

Tenho de reconhecer que, como diz a conhecida canção, também eu tenho dois amores especialíssimos: um, é a Universidade Católica; o outro, o Seminário de Vila Real. Honro-me, de facto, de ter leccionado em muitos departamentos (Faculdade de Teologia, Faculdade de Direito e nos três cursos da Escola das Artes) e de ter trazido uma sua Extensão para Vila Real. Quanto ao Seminário, posso dizer que o amei com a mesma ilusão de um primeiro amor. Acompanharei, com todo o interesse, as notícias de Ordenações dos actuais seminaristas. Seja louvado o Senhor da História que conduziu a minha vida por estes âmbitos.

Obviamente, levarei, no meu coração, a totalidade dos Padres desta Diocese. Foi conscientemente que lhes dediquei a minha tese de doutoramento. E sinto-me feliz por isso. Do mesmo modo, os três Diáconos Permanentes, a quem ajudei a conduzir à Ordenação.

A palavra final -última na folha, mas primeira na importância- é para o Bispo Diocesano e para o seu Coadjutor. Foi com o Senhor D. Joaquim que exerci a maior parte do meu tempo de Padre. Agradeço-lhe a confiança que sempre depositou em mim. Alegra-me anunciar que, querendo Deus, será ele o meu ordenante. Quanto ao Senhor D. Amândio, tenho a honra de o ter tido como meu superior, em Roma, e passarei a contar com ele como referência de amabilidade e simplicidade.

Embora adstrito a uma Igreja particular, pertence à essência do Bispo a solicitude por todas as Igrejas. Por isso, no seu coração, cabem as pessoas que lhe são directamente confiadas, mas cabem também muitas outras. No meu -podem ter a certeza- entrarão os cristãos de Braga, mas sem necessidade de saírem as muitas e muitas pessoas amigas que encontrei por estas terras tão queridas de Trás-os-Montes e Alto Douro: os fiéis das Dioceses de Vila Real e Lamego.

Marcamos encontro na minha ordenação?

A graça e a bênção do Senhor Jesus Cristo estejam convosco.

P. Manuel Linda
Eleito Bispo Auxiliar de Braga

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