Carta de D. António Vitalino, Bispo de Beja, aos seus sacerdotes

Já não vos chamo servos, mas amigos: permiti que comece esta carta com estas palavras do nosso Mestre Jesus Cristo aos seus apóstolos, durante a última ceia, em que lhes deu a conhecer o íntimo do seu coração e lhes confiou o memorial da sua vida e da sua aliança com a humanidade, o sacramento do amor levado ao extremo, no dom da vida para que nós tenhamos a verdadeira vida.

Caríssimos sacerdotes, colaboradores na perpetuação do amor do Coração de Jesus, como costumava dizer o Santo Cura de Ars, padroeiro de todos os párocos do mundo, o maior desejo do vosso irmão bispo é pedir-vos para nos unirmos em comunhão de oração e de vontades, para que este ano seja um grande sinal para esta Igreja particular de Beja. Este é o mesmo desejo tornado oração sacerdotal no coração de Jesus Cristo na última ceia: Não rogo só por eles, mas também por aqueles que hão-de crer em mim, por meio da sua palavra, para que todos sejam um só, como Tu, Pai, estás em mim e Eu em ti; para que assim eles estejam em Nós e o mundo creia que Tu me enviaste (Jo 17, 21-22). Foi também por nós que Cristo orou, para que sejamos e vivamos unidos e assim o mundo acredite.

A comunidade de Jerusalém pôs em prática esta vontade de Jesus: Eram assíduos ao ensino dos Apóstolos, à união fraterna, à fracção do pão e às orações (Act 2, 42). Porque eram um só coração e uma só alma no seguimento de Cristo, todos os dias o seu número aumentava.

Neste ano sacerdotal proponho para nossa meditação estes dois belíssimos textos. Se no fim do ano eles se tornarem um reflexo da nossa oração e das nossas atitudes, terá valido a pena todo o nosso esforço. E, de certeza, surgirão as vocações sacerdotais e aumentará o número dos crentes, ou, pelo menos, o fermento será mais actuante, a luz mais brilhante e o sal será o necessário para tornar os alimentos da fé mais saborosos e condimentados, como os Evangelhos definem a missão dos apóstolos.

Foi a minha pobre pessoa que a Igreja, na sucessão dos apóstolos, colocou nesta diocese. Sei e conheço as minhas debilidades, mas confio no poder de Deus, que vem em auxílio da nossa fraqueza e que usa os simples e as crianças para construir o seu Reino. Por isso faço minha a oração de Jesus na última ceia. Peço a Deus e a vós que, apesar das nossas fragilidades, confiemos no poder de Deus e na boa vontade uns dos outros.

Se tivermos alguma razão de queixa contra um irmão, não ponhamos na praça pública as suas fraquezas, mas usemos a recomendação evangélica da oração, do perdão e da correcção fraterna. O vosso bispo está à vossa disposição, para escutar, intermediar junto de cada um pessoalmente e unir a todos na construção desta nossa Igreja diocesana. Tenhamos todos bem presente a admonição de Jesus: Todo o reino, dividido contra si mesmo, será devastado e cairá casa sobre casa (Lc 11, 17).

Todos sabemos que ninguém vive para si mesmo e muito menos o discípulo e apóstolo de Cristo. Fomos chamados para o serviço, para conhecermos melhor o Mestre e sermos enviados em missão. A Igreja que somos chamados a construir e fortalecer é essencialmente missionária, mas sempre ligada a Cristo, Cabeça da Igreja e impregnada da sua vida e do seu amor por todos e cada um. Esta dimensão do nosso ministério precisa de ser revista e continuamente rectificada na nossa actuação a nível pessoal e comunitário. Temos de fazer uma profunda revisão de vida às nossas atitudes pessoais e dos nossos colaboradores, dos nossos serviços, estruturas e instituições. O fermento não pode ficar isolado da massa ou assumir uma atitude de agressão e de repúdio. Um perfeccionismo individualista e isolacionista não é evangélico, mas farisaico. Aqui surgem muitas das nossas dificuldades ministeriais. Precisamos de conhecer as verdades da nossa fé, mas também de crescermos numa sã pedagogia da fé. Todos somos aprendizes e todos nos podemos ajudar mutuamente. Só unidos na fé, na oração, na comunhão com Cristo e a Igreja poderemos desenvolver a melhor pastoral para o nosso tempo.

A Igreja portuguesa, desafiada pelo Santo Padre, está a repensar a sua acção pastoral, o que vai ter reflexos nos nossos modos de actuar e nas nossas estruturas. O Pe. Antóno Novais Pereira, como Director do SCAP, faz parte do grupo a nível nacional, convidado para ajudar nessa reflexão. Em espírito de entre-ajuda fraterna troquemos impressões uns com os outros e partilhemo-las com este nosso representante e com os nossos órgãos colegiais. É este um último pedido que vos faço. Mostremos interesse uns pelos outros e pelos nossos órgãos colegiais, fazendo-lhes chegar as nossas reflexões e experiências e tomando conhecimento das suas decisões. Que neste ano sacerdotal saia reforçada a comunhão, a partilha fraterna e a colaboração entre os membros do clero e o laicado. Sei que andamos todos sobrecarregados com a multiplicidade de tarefas e a dispersão. Mas só a união de esforços, a formação em ordem à definição das prioridades do nosso ministério nos farão sentir a verdade do convite de Jesus: Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, que Eu hei-de aliviar-vos (Mt. 11, 28).

Agradeço à comissão escolhida na reunião do Conselho Presbiteral de Setembro, formada pelos Padres José Manuel Fachadas Guerreiro, Rui Manuel Mendes Carriço e pelo Cónego António Mendes Aparício, o serviço de animação deste ano sacerdotal, em ordem a alcançar os melhores objectivos, para fortalecimento da nossa comunhão presbiteral e missão eclesial.

7 de Outubro de 2009

† António Vitalino, Bispo de Beja

Partilhar:
plugins premium WordPress
Scroll to Top