Caritas e a crise dos alimentos

Como é possível que não se tenha previsto atempadamente que esta carência de alimentos se poderia verificar? Durante anos os agricultores foram proibidos de semear, até mesmo o gado não podia pastar nas áreas que obrigatoriamente tinham de ficar de pousio. Por vezes era a única erva fresca que restava, e o gado não podia lá entrar. Quando situações deste tipo acontecem, qualquer pessoa se apercebe que algo está errado. É contra-natura existir fome no mundo e não ser permitido semear! Mais cedo ou mais tarde esta situação tinha forçosamente de ser alterada. As políticas agrícolas que nos últimos anos foram impostas aos agricultores terão e irão finalmente de ser revistas. Foram diversos os factores que desencadearam esta crise. Uma seca na Austrália e na Europa, a canalização de cereais para os biocombustíveis, o aumento do consumo de alimentos dos povos da China e da Índia devido ao seu desenvolvimento económico, mas também o factor especulação teve o seu peso. Após a crise da construção civil, o investimento de grandes grupos económicos e também de pequenos investidores foi desviado para a bolsa de Futuros, nomeadamente a bolsa dos Alimentos- na Bolsa de Chicago – as Commodities. A especulação na bolsa é somente um dos factores da crise, no entanto podemos perguntar: Será lícito que bens de primeira necessidade estejam cotados em bolsa, podendo ser alvo de especulações? Não terão os governos de acautelar o acesso dos mais carenciados aos bens essenciais? A alimentação e o acesso a água potável são direitos básicos de todo o ser humano. Muitas pessoas põem a questão se não será altura, tendo em conta o espectro da fome no mundo, de incrementar a comercialização de sementes geneticamente modificadas. No entanto, se por um lado estas sementes são mais produtivas, mas resistentes a intempéries, não se conhecem ainda as consequências para a saúde dos seres humanos, dos animais e de toda a natureza. Sendo essas sementes híbridas, não produzem sementes o que obriga os produtores a ficar dependentes de meia dúzia de multinacionais que as comercializam, entre elas a famosa Monsanto. Um aspecto positivo desta crise é o facto dos agricultores já poderem semear novamente, este ano excepcionalmente até foi permitido semear as áreas de pousio. Independentemente de tudo o que atrás foi dito, a pobreza e a exclusão social em Portugal e nomeadamente no Baixo Alentejo, continua a ser uma realidade. A Caritas de Beja através de diversas respostas sociais tem prestado apoio a muitas famílias. O aumento da procura de apoio deve-se em muitos casos ao baixo rendimento das famílias face às despesas básicas. Muitas famílias recorrem a nós, porque têm as rendas de casa em atraso, já lhes cortaram a água e a electricidade e não têm o que comer. São famílias em que só um dos progenitores tem trabalho, em muitos casos são famílias numerosas ou monoparentais, havendo situações em que a família está à espera de receber o Rendimento Social de Inserção. Uma equipa multidisciplinar da Caritas, composta por uma Psicóloga, uma Assistente Social e três Ajudantes de educação Familiar estão a fazer o acompanhamento individualizado de 100 famílias que estão a receber Rendimento Social de Inserção, com o objectivo de que as mesmas encontrem novos caminhos e adquiram competências para a sua promoção. Para além do refeitório social, distribuímos bens alimentares do Banco Alimentar e do Programa Comunitário dos Excedentes da União Europeia. A distribuição deste Programa é feita duas vezes ao ano, em Maio e Setembro. Este ano, no entanto, a distribuição de Maio não se irá realizar devido a alterações no Programa. Esperemos que esses bens alimentares cheguem o mais brevemente possível, pois são muito necessários. Teresa Chaves, Caritas de Beja

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Agência ECCLESIA

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