Organização católica prepara plano de emergência prevenindo o pior cenário e apela à reflorestação
A Cáritas do Funchal teme que os incêndios que afectaram a ilha da Madeira neste fim-de-semana dêem origem a enxurradas de consequências mais devastadoras do que as do último dia 20 de Fevereiro.
“Neste momento todas as rochas ficaram à mostra e o leito de cheia está completamente a descoberto. Não há mata florestal que possa deter o avanço das águas. Tudo o que chover vai escorrer pela montanha abaixo sem mato que o sustente”, disse à Agência ECCLESIA o presidente da Cáritas diocesana, José Manuel Barbeito.
“De acordo com os especialistas, o desastre foi muito mais grave” do que o temporal Fevereiro, vincou o responsável, acrescentando que “como não houve perdas de vidas, não há a consciência pública do grau de destruição”.
Um violento incêndio destruiu a quase totalidade do Parque Ecológico do Funchal, na última Sexta-feira.
A instituição de apoio social da Igreja Católica vai preparar um plano de emergência para a eventualidade de novas enchentes, “uma possibilidade que, infelizmente, temos de ter em conta”, assinalou José Manuel Barbeito.
“Logo que acabe o período de férias – explicou – a minha intenção é tomarmos algumas medidas de prevenção na estrutura da Cáritas para nos prepararmos devidamente, esperando que não aconteça o pior.”
Entre as decisões que estão em cima da mesa equaciona-se o lançamento de uma campanha orientada para a recuperação do parque natural, visando proteger as pessoas e habitações próximas dos corredores das águas pluviais.
“A mensagem desta campanha tem de ser muito bem estudada, dado que é muito mais difícil pedir ajuda para plantar árvores do que para a encaminhar directamente para as pessoas”, salienta o presidente da Cáritas diocesana.
José Manuel Barbeito sabe que os incêndios deste Sábado e Domingo desalojaram uma família, que por sua vez já acolhia uma vítima das enxurradas que ocorreram em Fevereiro.
As pessoas que perderam a casa ou cuja residência foi danificada na sequência destas cheias encontram-se instaladas em casas de familiares ou amigos, pelo que não há actualmente vítimas em centros de alojamento.
Os donativos recolhidos pela campanha da Cáritas possibilitaram a aquisição e oferta de electrodomésticos e mobiliário a cerca de 300 famílias, mas continuam a faltar frigoríficos, fogões, máquinas de lavar roupa, esquentadores e microondas, beliches, camas, cómodas, roupeiros, sofás, estantes, mesas e cadeiras.
“Felizmente ainda há dinheiro da campanha e não queremos estar a fazer apelos alarmistas. Evidentemente que os donativos são bem-vindos mas vamos fazer os pedidos na medida da necessidade”, frisou José Manuel Barbeito.
Para muitos, os efeitos das cheias que provocaram mais de 40 mortos ainda estão bem vivos: de acordo com o responsável, há “algumas dezenas” de pessoas que continuam a aguardar o regresso a uma casa que possam chamar sua.
O presidente da Cáritas do Funchal acredita que processo vai ser demorado: antes de proceder às obras ou à construção de raiz é preciso “ter todos os cuidados para avaliar as zonas de risco” e verificar se “as encostas são seguras e se os caminhos possibilitam a passagem das águas”.
Há também “várias famílias” alojadas em casa de vizinhos ou familiares que não declararam a perda da sua habitação, o que obriga à necessidade de verificar a veracidade desses casos.
“Ainda teremos uma longa caminhada a fazer”, conclui José Manuel Barbeito.