Responsáveis da instituição católica estão preocupados com cortes na despesa do Estado anunciados pelo primeiro-ministro
Lisboa, 08 abr 2013 (Ecclesia) – As Cáritas das dioceses portuguesas querem ajudar as famílias mais carenciadas a administrarem melhor os rendimentos, procurando consolidar uma mentalidade de poupança que, em alguns casos, esteve afastada das suas prioridades.
“Durante os vários anos em que vivemos uma situação ilusória de abundância houve muito desperdício e ‘desleixo’”, situação que resultou igualmente de campanhas que veiculavam o “crédito fácil”, afirmou hoje à Agência ECCLESIA o presidente da Cáritas do Funchal.
A instituição dirigida por José António Barbeito organiza entre hoje e quinta-feira na capital da Região Autónoma da Madeira a ação formativa denominada ‘Saber viver em tempos de crise’, projeto que conta com a parceria da DECO, Associação Portuguesa para a Defesa do Consumidor.
A sessão de hoje é dirigida a técnicos de apoio social ligados à Igreja, estendendo-se a partir de terça-feira a 60 famílias que, “estando a ser apoiadas pela Cáritas Diocesana, podem ainda fazer um esforço na gestão económica do seu dia a dia, para que a sua situação financeira melhore ou, pelo menos, seja amenizada”, explicou.
O Seminário de Leiria também acolhe hoje a mesma iniciativa, que reúne 25 colaboradores da Cáritas de vários pontos da diocese que estão em contacto com pessoas carenciadas.
“Os nossos técnicos apercebem-se, com regularidade, que muitas pessoas vivem em situações de pobreza originadas também pela incapacidade de gerirem os seus rendimentos, que são geralmente pequenos mas que podiam ser melhor aproveitados”, sublinhou o presidente da Cáritas de Leiria-Fátima.
Júlio Coelho Martins reagiu à declaração que o primeiro-ministro apresentou ao país no domingo, na sequência da reprovação de quatro artigos do Orçamento de Estado para 2013 por parte do Tribunal Constitucional.
“Há alguns anos que estamos a assistir à diminuição dos rendimentos das famílias, o que se tem traduzido num acrescento de dificuldades”, afirmou.
Para o presidente da Cáritas do Funchal o discurso de Pedro Passos Coelho perspetiva “o agravamento da situação das pessoas”, depois das “nuvens negras que já se estavam a formar” na sequência das previsões económicas do Governo que não se concretizaram.
“Não podemos estar sempre a cair nos cortes nas mesmas pessoas”, frisou José Manuel Barbeito, que gostaria de ver reduções na despesa do Estado em áreas como as “parcerias público-privadas, de que não se fala”, bem como nos “vencimentos e reformas exorbitantes” que beneficiam pessoas “com poucos anos de serviço”.
Pedro Passos Coelho disse no domingo que o “desequilíbrio” causado pela decisão do Tribunal Constitucional impõe a concretização de “medidas de contenção da despesa pública, nomeadamente nas áreas da segurança social, saúde, educação e empresas públicas”.
“Não duvido que aparecerão vozes a protestar que, com isso, estaremos a pôr em causa o Estado social e que o Governo não aprende a lição parando com a austeridade. Mas o Governo não pode compactuar com essa demagogia fácil e, para defender o Estado social, precisa de garantir o dinheiro que suporta as suas despesas”, referiu.
RJM