Cáritas: «A economia mata e exclui, mas a sociedade tem de ter uma resposta a dar às pessoas» – José Manuel Cordeiro (c/vídeo)

Podcast «Amor que transforma» refletiu sobre empregabilidade, competências e construção do bem comum

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Lisboa, 18 mai 2023 (Ecclesia) – O investigador José Manuel Cordeiro afirmou hoje a necessidade de mudança de paradigma económico, passando a economia a estar ao serviço da sociedade, com adequação de competências e respostas a quem está desprotegido.

“A Constituição da República Portuguesa é clara: a economia serve para a sociedade, não é a sociedade que tem de marcar passo em relação ao que a economia precisa de nós. A economia é instrumental para o bem-estar da sociedade. Não é a sociedade que tem de estar a preparar-se para a economia. E estamos a falar de pessoas para quem a economia não tem resposta para eles, mas a sociedade tem de ter uma resposta para eles”, explicou o membro da Direção Nacional da Cáritas Portuguesa, no podcast «Amor que transforma», realizado em parceria com a Agência ECCLESIA.

José Manuel Cordeiro preconiza uma convergência entre as competências pessoais que cada pessoa “desenvolve” e as que “a sociedade precisa” para gerar e responder ao bem comum.

“Em 2001, 0,1% dos portugueses tinha ensino superior completo, até aos 35 anos; hoje, andamos na ordem dos 30/40%. Analisando como foi essa progressão ao longo destes 20 anos, e se há o mesmo ritmo de crescimento dos ordenados para essa população, verificamos uma diferença entre as qualificações que estamos a produzir e o que o mercado está a necessitar”, evidencia.

O investigador e professor recorda o alerta que o Papa Francisco lançou ao afirmar que a «economia mata» e pediu respostas sociais para quem está desprotegido.

“«Esta economia mata», e mata fisicamente mas mata esperança também. Temos de ser uma sociedade mais solidária, e não uma sociedade que mata talento, esperança”, explica, reconhecendo que a sociedade deve encarar a dignidade da pessoa humana e não o trabalho que ela realiza.

“A dignidade não está naquilo que eu faço, mas na pessoa, independentemente do que faça. Temos a visão que há trabalhos com maior ou menor dignidade. Não. O trabalho é para dignificar. A dignidade já está na pessoa”, sublinha.

José Manuel Cordeiro lamenta a ideia de trabalho na cultura ocidental como “um castigo”, ao invés da oriental onde é reconhecido como algo que “dignifica a pessoa”.

“Em casa, pomos os nossos filhos a fazer um trabalho como castigo; essa não é a melhor solução. Muito do trabalho que é feito nas escolas por se ter portado mal é um castigo; mas trabalhar para a sociedade é um castigo? É um conceito que temos de rever. As pessoas têm de entender o trabalho como algo que as dignifica e estamos neste mundo para o transformar. Como cristãos, temos o objetivo de transformar o mundo para o bem comum”, explica.

O investigador reconhece que as mudanças levam tempo, e percebe alguma “desesperança” entre jovens e as famílias, em muitos casos que enfrentam situações onde o rendimento laboral não é suficiente para a sua sustentabilidade, mas deixa uma palavra de esperança e de mudanças a acontecer junto dos jovens.

“Muitas pessoas dizem que os nossos filhos vão ter menos condições que tiveram os pais. Eu não acredito, porque os modelos de felicidade têm que se transformar e o meu bem-estar traduz-se de forma diferente, assim como os critérios de bem-estar dos meus filhos”, explica.

LS

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