Caricaturas e anti-clericalismo

Diversidade da imprensa ligada à Igreja revelou «complexidade do catolicismo» na sequência de 5 de Outubro de 1910

As caricaturas e o anti-clericalismo, incluindo o que se produziu dentro da Igreja Católica, foram dois dos elementos mais importantes da imprensa portuguesa durante a mudança do regime da Monarquia para a República.

Na conferência de abertura das Jornadas Nacionais das Comunicações Sociais, que se realizam hoje e amanhã em Fátima, o historiador António Matos Ferreira sublinhou a importância das caricaturas na fixação de “mitos comunicacionais” que se tornaram “elementos de rigidez societária”.

Além da oposição aos organismos e estruturas eclesiais defendida e propagada por parte significativa de sectores ligados ao regime republicano, o anti-clericalismo foi também factor reagente para a recomposição da Igreja Católica.

Numa época em que o alcance da comunicação social era mais reduzido, a informação difundida através de jornais, diários, semanários, revistas e folhas volantes era ampliada pelo clero, que além de formar a opinião e os comportamentos, difundia as notícias veiculadas na imprensa.

No entender do investigador, a imprensa católica contribuiu para galvanizar energias na Igreja, embora não tenha alcançado “a reconquista cristã total da sociedade”.

“Estamos diante de um jornalismo genericamente militante”, sublinhou António Matos Ferreira, acrescentando que a imprensa, “era em larga medida”, programática e propagandística.

Estes elementos caracterizaram igualmente os jornais ligados a instituições eclesiais, cuja variedade de pontos de vista sobre a Igreja e o novo regime são reveladores da “complexidade do catolicismo” do tempo, tornando difícil a aplicação da distinção entre “boa e má imprensa”, surgida nos meios católicos do tempo.

A construção de diferentes narrativas dos acontecimentos por parte de uma imprensa onde as “fronteiras entre o que acontece e o que se deseja que aconteça eram ténues”, constituíram factores de transformação social, mas também de conflito.

Depois da conferência de António Matos Ferreira, as Jornadas continuam com um painel intitulado “Igreja versus República: verdades e mentiras”, que conta com a presença dos historiadores Fernando Rosas e D. Carlos Azevedo, bispo auxiliar de Lisboa.

Pelas 18h30, D. Manuel Clemente apresenta o “Dicionário Histórico das Ordens, Institutos Religiosos e Outras Formas de Vida Consagrada Católica em Portugal”, obra coordenada por José Eduardo Franco e editada pela Gradiva.

O programa prossegue com uma intervenção de Pedro Gil sobre o tema “Gabinetes de informação da Igreja: um ano depois”, questão que esteve em foco nas Jornadas da Comunicação Social de 2009.

Após o jantar reúnem-se os membros da Associação de Imprensa de Inspiração Cristã.

O segundo dia das Jornadas abre com a celebração da missa, seguindo-se, depois do pequeno-almoço, a mesa redonda “República: Comunicação e Igreja”, com a participação de Emídio Rangel e Francisco Sarsfield Cabral.

Às 12h15, o director da Agência Ecclesia, Paulo Rocha, e o director-adjunto do Centro de Estudos de História Religiosa da Universidade Católica, António Matos Ferreira, apresentam uma revista sobre o Centenário da República, preparada pelas duas instituições.

O encontro, organizado pelo Secretariado Nacional das Comunicações Sociais, será encerrado por D. Manuel Clemente.

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