Cardeal Saraiva Martins explica processo de canonização dos Pastorinhos

«Milagre» dos Beatos está em estudo no Vaticano O prefeito da Congregação para as Causas dos Santos, Cardeal Saraiva Martins, revelou ao Programa ECCLESIA que a alegada cura milagrosa atribuída à intercessão dos Pastorinhos “está a ser analisada pelos médicos da Congregação”, no Vaticano. “Oxalá se chegue à conclusão que se trata de um verdadeiro milagre”, revelou em entrevista gravada esta quarta-feira e que será emitida Sexta-feira, na RTP2, após a cerimónia de dedicação da nova igreja da Santíssima Trindade, em Fátima. Como recordou o Cardeal português da Cúria Romana, “as normas canónicas em vigor pedem um milagre feito por Deus, por intercessão dos Pastorinhos”. O caso em análise refere-se à cura de uma criança – filha de emigrantes portugueses na Suíça – a qual precisou de insulina durante um ano, facto que se alterou logo após o momento de beatificação de Jacinta e Francisco, a 13 de Maio de 2000. No dia 17 de Novembro de 2004 foi entregue na Congregação a documentação relativa à cura da criança, elaborada por um Tribunal Diocesano. Em termos processuais, após a entrega do processo na Congregação para as Causas dos Santos, houve uma primeira averiguação da autenticidade dos documentos apresentados, no total de 127 folhas. Já em 2005, no dia 19 de Fevereiro, foi entregue a chamada “Positio Super Miraculum” para a canonização de Jacinta e Francisco Marto, o que implicava que o processo documental estava completo, traduzido em italiano, definitivamente encerrado e entregue ao Cardeal Prefeito da Congregação da Causa dos Santos. Após a análise dos documentos, sete médicos apresentarão uma declaração, que, no caso de ser positiva, isto é, de confirmar a cura inexplicável no estado actual da ciência, permitirá à Congregação declarar o milagre da intercessão por Francisco e Jacinta. O Cardeal Saraiva Martins indica, na entrevista, que “caso esta cura não seja milagre, será preciso esperar que aconteça outro milagre”, acrescentando que,por agora, “não há outros casos” registados pela causa de canonização. Se, pelo contrário, os médicos concluírem que a cura não tem explicação científica, o processo passa ao exame dos teólogos que irão avaliar se foi mesmo a intercessão dos Pastorinhos que permitiu a cura. Nesse caso, as conclusões, tanto dos médicos como dos teólogos, serão depois submetidas ao exame da “Ordinária” da Congregação, assembleia composta por 30 membros, entre Cardeais, Arcebispos e Bispos: é a eles que compete aprová-las ou não. Se forem aprovadas, compete ao Prefeito da Congregação levá-las ao conhecimento do Papa. Finalmente, o Prefeito da Congregação para a Causa dos Santos apresentará então toda a documentação ao Papa, “que decidiria canonizar ou não os Pastorinhos”. D. José Saraiva Martins assinala que “é preciso não esquecer que Jacinta e Francisco foram as primeiras crianças na história da Igreja a ser beatificados”. “Houve tantos pedidos, de bispos, cardeais, de fiéis que pediram a beatificação dos Pastorinhos, que isso levou o Vaticano a reflectir e a nomear uma comissão de estudo para ver se as crianças tinham capacidade para praticar a virtudes cristãs em grau heróico. Essa Comissão chegou à conclusão que as crianças como os adultos podem praticar as virtudes em grau heróico”, recordou. Lúcia Quanto ao eventual processo de beatificação da Irmã Lúcia, o Cardeal português afirmou não ter dúvidas de que “Lúcia é uma Santa”, lembrando o “privilégio” de a ter encontrado várias vezes em Coimbra. “A impressão que tive sempre foi que se tratava de uma pessoa santa, notava-se logo”, precisou. Este responsável lembra que o Direito Canónico exige um período de espera de cinco anos após a morte do “candidato aos altares”, o que no caso da Irmã Lúcia só acontecerá em Fevereiro de 2010. “Se não acontecer nada, é preciso esperar esses dois anos e quatro meses, mas é evidente que o Santo Padre pode dispendar esse tempo. O pedido tem de partir dos promotores da causa, que neste caso é a Diocese de Coimbra”, indicou, sem referir se o pedido já teria chegado ao Vaticano. A Irmã Lúcia faleceu em Coimbra, no dia 13 de Fevereiro de 2005, aos 97 anos. Depois das Aparições de 1917, das quais foi a principal mensageira, a Irmã Maria Lúcia de Jesus e do Coração Imaculado entrou para a vida de consagração religiosa em 1925 e professou como Doroteia na cidade de Tuy, em Espanha, no ano de 1928. Fez votos perpétuos no dia 13 de Outubro de 1934. Tornou-se Carmelita em Coimbra, no Carmelo de S. Teresa, no dia 25 de Março de 1948, onde permaneceu até à sua morte. A Vidente foi sepultada no Carmelo de Santa Teresa, em Coimbra, como era seu desejo, durante um ano antes de ir para a Basílica do Santuário de Fátima. A tramitação do processo de santidade de um católico morto com fama de santo passa por etapas bem distintas. Cinco anos após a sua morte, qualquer católico ou grupo de fiéis pode iniciar o processo, através de um postulador, constituído mediante mandato de procuração e aprovado pelo bispo local. Juntam-se os testemunhos e pede-se a permissão à Santa Sé. Quando se consegue esta permissão, procede-se ao exame detalhado dos relatos das testemunhas, a fim de apurar de que forma a pessoa em questão exercitou a heroicidade das virtudes cristãs. Aos bispos diocesanos compete o direito de investigar acerca da vida, virtudes ou martírio e fama de santidade ou de martírio, milagres aduzidos, e ainda, se for o caso, do culto antigo do Servo de Deus, cuja canonização se pede. Este levantamento de informações é enviado à Santa Sé. Se o exame dos documentos é positivo, o “servo de Deus” é proclamado “venerável”. A segunda etapa do processo consiste no exame dos milagres atribuídos à intercessão do “venerável”. Se um deste milagres é considerado autêntico, o “venerável” é considerado “beato”. Quando após a beatificação se verifica um outro milagre devidamente reconhecido, então o beato é proclamado “santo”.

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