D. José Policarpo, presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), defendeu hoje em Coimbra que a figura da Irmã Lúcia é um símbolo que fala a todo o país. Na homilia das exéquias solenes, que decorrem na Sé Nova de Coimbra, o Cardeal-Patriarca referiu que “na morte desta mulher, qualquer coisa tocou Portugal”. “Quando uma comunidade nacional é capaz de reconhecer na simplicidade de uma religiosa um símbolo que fala a todos, esse é certamente para nós um sinal de esperança”, disse. Tentando passar à margem de polémicas recentes, D. José Policarpo fez questão de vincar que “a morte da Irmã Lúcia é um momento de comoção” aos qual “poucos portugueses ficaram indiferentes”. “A Lúcia certamente terá perguntado a Nossa Senhora: e Vossemecê, o que quer deste Portugal, desta terra de Santa Maria?”, afirmou o Cardeal-Patriarca, num momento que a assembleia sublinhou com uma salva de palmas. O presidente da CEP confessou que, como tantos portugueses, estava comovido e sensibilizado. “Eu pessoalmente, fui particularmente tocado pelo volume das reacções e das mensagens, que inesperadamente vieram de todos os quadrantes”, assinalou. Neste sentido, agradeceu em nome da Igreja “a todos aqueles que nos fizeram chegar mensagens escritas, tomaram gestos e posições, fizeram declarações em público, manifestando à sua maneira que sentiram na morte desta mulher qualquer coisa que tocava Portugal”. D. José Policarpo referiu que, com a Irmã Lúcia viva, os acontecimentos de Fátima eram nossos contemporâneos. “A sua morte marca uma fronteira. A partir deste momento, Fátima é uma grande mensagem, tradição espiritual que nós recebemos de gerações e gerações de peregrinos, penitentes e orantes que tomaram a sério, contra tudo e contra todos, a simplicidade de uma mensagem”, apontou. Simplicidade e fidelidade “- Queria pedir-Lhe para nos levar para o Céu. – Sim; a Jacinta e o Francisco levo-os em breve. Mas tu ficas cá mais algum tempo. Jesus quer servir-Se de ti para Me fazer conhecer e amar. Ele quer estabelecer no mundo a devoção ao Meu Imaculado Coração. – Fico cá sozinha? – perguntei, com pena. – Não filha. E tu sofres muito? Não desanimes. Eu nunca te deixarei. O meu Imaculado Coração será o teu refúgio e o caminho que te conduzirá até Deus”. 13 de Junho de 1917 (Diálogo entre Lúcia e Nossa Senhora, in Memórias da irmã Lúcia) Foi tendo em conta esta passagem das memórias da Irmã Lúcia que o Cardeal-Patriarca dedicou uma parte da sua homilia a falar da simplicidade e da fidelidade da Vidente no cumprimento da sua missão. “O que de extraordinário aconteceu na vida desta mulher insere-se na normalidade da vocação cristã”, considerando que, em caso contrário, correria o risco de não ser verdadeira. Falando numa eleição de predilecção, o Patriarca vincou que, na vida dos cristãos, essa vocação nasce “numa experiência do divino tão forte que não a podemos ignorar”. “Quando um projecto de Deus é anunciado com tal clareza, só me resta procurar segui-lo e ser-lhe fiel”, frisou. D. José Policarpo indicou que a uma vocação corresponde uma missão, como no caso dos pastorinhos. “A maneira como Lúcia narra nas suas memórias as aparições deixa claro que a visita inesperada do céu é entendida como uma missão, algo que o Senhor tinha para lhes pedir”, recorda. Sobre a parte da missão que nós conhecemos, o presidente da CEP sublinhou que a Irmã Lúcia “foi a porta-voz das revelações”. “Lúcia é sempre aquela que fala com Nossa Senhora (…) Espero que muito brevemente possamos ter aceso a esse manancial imenso de doutrina espiritual que esta mulher tão simples, mas tão grande, escreveu”, acrescentou. O Cardeal-Patriarca disse ainda que “há uma parte da sua missão que ela levou para o céu: penitência, conversão e contemplação”. “Estamos comovidos, não tanto porque ela morreu, mas porque hoje, entre Fátima e o Céu, uma nova ponte se estabeleceu”, assegurou.