D. José Policarpo alerta para possíveis consequências das manifestações de «descontentamento» sobre os mais pobres
Fátima, Santarém, 12 nov 2012 (Ecclesia) – O cardeal-patriarca de Lisboa apelou hoje em Fátima à unidade do país num momento “particularmente exigente e difícil”, em que se fazem sentir o sofrimento e a falta de esperança provocados pelo desemprego e a austeridade.
“Não é uma comunidade nacional dividida, mas solidária, que poderá enfrentar estes tempos difíceis”, disse D. José Policarpo no discurso de abertura da 180.ª Assembleia Plenária da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), que decorre até quinta-feira.
O presidente da CEP pediu mais informação, “objetiva e verdadeira”, sobre os problemas reais e as soluções possíveis, acrescentando que “é missão da Igreja, no seu diálogo pastoral com as pessoas, ajudar neste discernimento”.
“Estamos reunidos num momento particularmente exigente e difícil para muitos dos nossos diocesanos, de um modo especial para as famílias onde o desemprego e a austeridade exigida, trouxeram sofrimento e, por vezes, fizeram perder a esperança”, observou.
A dois dias de uma greve geral, o cardeal-patriarca apelou à ponderação da sociedade civil para evitar uma maior penalização dos mais necessitados.
“Estará a nossa população, nas diversas manifestações do seu descontentamento, consciente de que o bem comum da nossa sociedade pode estar ameaçado e que, se isso acontecer, serão os mais pobres e desfavorecidos que mais sofrerão?”, questionou.
O patriarca de Lisboa defendeu a necessidade de “coragem e serenidade” no atual momento de crise, sublinhando que “os egoísmos e individualismos não levam à solução dos problemas, nem das pessoas, nem da sociedade”.
“Há liberdades constitucionais e jurídicas que a Igreja respeita, tais como o direito a manifestar-se, a fazer greve, etc., desde que seja nos parâmetros da Lei e da ordem democrática estabelecida. Mas o exercício dessas liberdades pode ser motivado pela preocupação do bem comum”, precisou.
D. José Policarpo referiu, por outro lado, que a principal resposta dos católicos tem passado pela “solidariedade e partilha fraterna”.
“Que cada cristão esteja atento ao seu vizinho, que é o seu próximo, aceitemos a colaboração com outras iniciativas de solidariedade”, apelou.
Segundo este responsável, a consciência do bem comum supõe a “experiência da dimensão comunitária da sociedade”.
“Só haverá preocupação com o bem comum de toda a sociedade se houver, ao nível cultural e ético, respeito e cultivo da dignidade da pessoa humana, que se exprime na solidariedade e no empenho comunitário”, precisou.
O presidente da estrutura cimeira do episcopado católico em Portugal aludiu às análises que mostram que as famílias são as mais atingidas pelas “exigências da austeridade”.
“É nossa missão estar com as famílias para que as dificuldades materiais não as anulem como lugar de amor, de convivência, de discernimento e de coragem para lutar”, assinalou.
Neste contexto, o cardeal-patriarca deixou votos de que “as famílias que podem sejam solidárias com as famílias que precisam”.
Após o final dos trabalhos da assembleia vai ter lugar uma conferência de imprensa, pelas 14h30, com a divulgação do comunicado conclusivo.
OC