Cardeal Pacelli ajudou a salvar judeus

A organização norte-americana “Pave The Way Foundation (PTWF)”, que promove a paz e o diálogo entre as religiões, anunciou a descoberta de documentos relacionados com a acção do então Cardeal Eugenio Pacelli em favor dos judeus.

Pacelli – que viria a ser Papa Pio XII – foi secretário de Estado de Pio XI antes do início da II Guerra Mundial e Papa entre 1939 e 1958. Fora ainda Núncio Apostólico na Alemanha.

Segundo Gary Krupp, presidente da PTWF, existem “mais de 40 mil páginas de documentos, vídeos de testemunhas oculares e artigos em nosso website (www.ptwf.org) para ajudar os historiadores a investigar este período”.

O historiador e representante da PTWF na Alemanha, Michael Hesemann, visitou regularmente o Arquivo Secreto do Vaticano, aberto recentemente, e continua a realizar descobertas significativas.

O seu último estudo dos documentos originais publicados revela acções secretas para salvar milhões de judeus desde 1938, três semanas depois da Kristallnacht (noite de cristal), a 9 de Novembro.

O Cardeal Pacelli (futuro Papa Pio XII) enviou uma mensagem para as Nunciaturas e para as Delegações Apostólicas e uma carta para 61 arcebispos do mundo católico pedindo 200 mil vistos para “cristãos não-arianos”. Mandou também outra carta, datada de 9 de Janeiro de 1939.

Michael Hesemann declara que “o facto de nesta carta se falar de ‘judeus convertidos’ e ‘cristãos não-arianos’ parece ser um subterfúgio. Não se podia estar seguro de que os agentes nazis não saberiam da iniciativa”.

O historiador afirma que a terminologia usada visava proteger a Igreja do regime de Hitler, para não ser perseguida precisamente por ajudar os judeus.

A Concordata de 1933 firmada com a Alemanha garantia que os judeus convertidos seriam tratados como cristãos, posição legal que permitiria a Pacelli ajudar os referidos “católicos não-arianos”. É muito pouco provável, contudo, que todos os judeus que tiraram proveito desses vistos se tivessem convertido.

Parece claro que o Cardeal italiano não se referia apenas aos judeus convertidos, dado pedir que os arcebispos se preocupem em “garantir o seu bem-estar espiritual e defender o seu culto religioso, seus costumes e suas tradições”.

Nas respostas originais dos bispos e dos núncios à petição de Pacelli, os prelados referiam-se frequentemente aos “judeus perseguidos”, não aos “judeus convertidos” ou “católicos não-arianos”.

A carta escrita aos bispos está datada de 30 de Novembro de 1938, 20 dias depois dos ataques às propriedades de judeus, quando o Cardeal Pacelli era Secretário de Estado do Vaticano.

“Ainda que seja amplamente reconhecida pelos historiadores a intercessão de Pacelli para salvar milhões de ‘judeus convertidos’, muitos baseiam as suas conclusões na leitura precipitada de cartas e documentos do Vaticano”, observa a PTWF.

Segundo indicações recolhidas pela agência Zenit, há uma “directa e comprovada ameaça nazi contra o Estado Vaticano e a vida do Papa Pio XII”, pelo que era necessário “usar subterfúgios”.

“Em muitos casos, os historiadores ignoram a linguagem do Vaticano, que às vezes usa o latim para expressar o significado oculto destas petições”, pode ler-se.

A PTWF continuará a difundir os documentos enquanto for possível, “porque tudo o que descobrimos até agora parece indicar que a difundida percepção negativa do Papa Pio XII é errónea”, afirmou Elliot Hershberg, presidente do Conselho de Administração da organização norte-americana.

O professor Ronald Rychlak, investigador e autor do livro “Hitler, the War and the Pope”, afirmou que os documentos provam que “os esforços que parecem estar dirigidos em defender somente os judeus convertidos, na realidade defendiam todos os judeus, independentemente do facto de estarem ou não convertidos “.

Para Matteo Luigi Napolitano, professor de História das Relações Internacionais, as instruções de Eugenio Pacelli na carta de 9 de Janeiro de 1939 não deixam dúvida sobre as intenções da Santa Sé e do futuro pontífice.

A missiva convida os prelados a não se empenharem em salvar apenas os judeus, mas também “sinagogas, centros culturais e tudo o que pertencia à sua fé”.

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