Padre Benjamim de Sousa e Silva, Diocese das Forças Armadas e Forças de Segurança
O Hospital das Forças Armadas – Polo do Porto, foi pioneiro a receber doentes infetados com Covid-19.
Tudo era novidade, daí uma grande capacidade logística de inovação, adaptação e criatividade, nos recursos humanos e tecnológicos.
As notícias relatavam as milhares de pessoas mortas pela Europa fora e o Papa Francisco realçava as dezenas de sacerdotes mortos na sua missão de bem servir. (Três sacerdotes da Diocese do Porto, meus colegas foram infetados e morreram).
No Hospital chegavam colunas de cinco ambulâncias de cada vez, vindas do Norte do País, com pessoas de cabelo branco, muito frágeis dos Lares da Terceira Idade.
Assim se ocuparam 3 Enfermarias preparadas para o efeito, com cerca de 50 internamentos hospitalares, num total perto de meio milhar.
O Capelão consciente da importância do serviço de assistência religiosa, colocou-se logo disponível para integrar o corpo clínico.
Na primeira visita confrontei-me com um doente que morria e era ensacado em dois sacos plásticos sobrepostos. Foi para mim uma experiência muito dolorosa, que me impeliu a ser uma presença constante, sinal do Amor de Jesus por cada um. Para os consolar, levei terços que enrolavam nas mãos, levei o Corpo de Cristo e os óleos do sacramento de Unção dos Enfermos em sacas esterilizadas.
Procurei sobretudo a todos serenar com gestos de carinho e proximidade. Cheguei a colocar três pares de luvas para me proteger e puder abraçar.
Penso que muitos morreram pelo mundo, cheios de medo, assustados, isolados e sem qualquer apoio familiar, mais do que de Covid-19.
Nos primeiros funerais não estavam presentes os familiares, não foi possível despedir-se, fazer o luto e isto causou imenso sofrimento.
Certamente iluminado pelo Espírito Santo, comecei a ir celebrar algumas missas de 7º dias a casa das famílias enlutadas, no topo da mesa e as famílias no fundo. Não haviam eucaristias nas Igrejas Paroquiais.
Com tal atitude, ajudei a fazer o luto, a acalmar os corações atribulados e a levar a esperança e a fé quase perdidas.
Foram tempos difíceis, extenuantes, que só com grande profissionalismo e sacrifício o Hospital Militar serviu de forma exemplar os Portugueses.
Nas festas principais de Natal e Páscoa levei músicas e cantores, que nas entradas dos corredores das enfermarias, nos encantaram com festivas músicas litúrgicas.
Realço os voluntários, muito importantes para reforçar os profissionais de saúde, que também ficavam infetados com Covid-19 e tinham de ser isolados.
Padre Benjamim de Sousa e Silva,
capelão militar no Hospital das Forças Armadas – Pólo do Porto