Teólogo franciscano sublinha que a novidade de São Francisco de Assis «ainda hoje» está na promoção do acesso a Deus através de todas as criaturas

Lisboa, 04 out 2025 (Ecclesia) – O ‘Cântico das Criaturas’, escrito por São Francisco de Assis em 1225, propõe leitura alternativa à teologia da criação fundamentada na afirmação “crescei, multiplicai-vos e dominai” e promove o acesso a Deus de todas as criaturas.
“S. Francisco dá voz às criaturas que não se apresentam no lamento de quem carrega o pecado original, mas criaturas redimidas que nos convidam a louvar a Deus”, afirma o frade franciscano.
Para este teólogo, o poema surge numa época em que determinados movimentos, como Cátaros e Albigenses, “denegriam a natureza” promovendo um “dualismo insuperável” em que espírito e matéria não seriam conciliáveis.
“À ascese da fuga mundi (fuga do mundo), S. Francisco apresenta a alternativa de que a própria realidade do mundo nos pode levar até Deus, e é isso que é inovador ainda hoje”, afirma.

Frei Isidro considera que com a encíclica ‘Laudato Si´’, escrita pelo Papa Francisco há 10 anos, é um alerta para a Igreja, que nem sempre valorizou a intuição de S. Francisco e da tradição franciscana, e propõe uma leitura alternativa da chamada Teologia da Criação: perante a imagem do “crescei, multiplicai-vos e dominai a terra”, o Papa Francisco lembra “outras hermenêuticas na tradição cristã”, sendo S. Francisco Assis uma delas e o seu ‘Cântico das Criaturas’ “um contraponto a esta ideia do homem dominador e centro da criação”.
Para o franciscano, outra razão da força do poema do santo de Assis é o facto de ser escrito num momento de grande sofrimento físico de Francisco e de alguma frustração, porque a Ordem não estava a seguir todos os passos que idealizou.
Ao longo da História, foram criadas adaptações musicais e cinematográficas da vida do santo de Assis e do seu ‘Cântico das Criaturas’, nomeadamente por compositores clássicos ou bandas sonoras de filmes, que têm dado relevo a este poema de S. Francisco.
Frei Isidro Lamelas indica que, “intencionalmente”, Francisco escreve o ‘Cântico das Criaturas’ em dialeto da Úmbria, um dialeto popular que ajuda o canto a chegar ao povo e a ser aproveitado pelos trovadores que o transformaram em canção e dança.
“S. Francisco deixou indicações aos seus frades para que terminassem as suas pregações e orações cantando este cântico com o povo”, afirma o teólogo franciscano, professor da Universidade Católica Portuguesa.
O Cântico das Criaturas foi também escolhido há 10 anos, pelo Papa Francisco, como “pórtico” para a sua encíclica ambiental ‘Laudato Si’’.
Os 800 anos do ‘Cântico das Criaturas’, uma referência na literatura italiana e da espiritualidade cristã, são o tema do programa 70X7, emitido este domingo na RTP2, pelas 17h28.
HM/PR