«Era sempre um desafio muito grande trabalhar com o padre Vítor» – Helena Presas
Lisboa, 07 out 2021 (Ecclesia) – A Paróquia do Campo Grande, no Patriarcado de Lisboa, despediu-se hoje do padre Vítor Feytor Pinto, falecido esta quarta-feira aos 89 anos de idade, numa celebração que reuniu atuais e antigos paroquianos e colaboradores.
“Guardo sobretudo o entusiasmo com que o padre Vítor falava do Evangelho e a maneira como consegui trazer o Evangelho para a linguagem e hoje, para os dias de hoje e para as circunstâncias que vamos vivendo”, disse Helena Presas aos jornalistas.
O padre Vítor Feytor Pinto foi responsável pela Paróquia do Campo Grande, em Lisboa, entre 1997 e 2017, e a sua antiga colaboradora foi “uma espécie de um braço direito” que o sacerdote teve durante muitos anos e sublinha que “era um enorme desafio constante, mas feito com muita serenidade”.
“O padre Vítor era uma pessoa muito delicada a falar connosco, muito delicada na maneira de gerir uma equipa. Era um senhor e foi até ao fim, mesmo dentro das fragilidades”, acrescentou a paroquiana do Campo grande.
Já antigo primeiro-ministro português e presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, “muitos anos paroquiano” no Campo Grande”, quis prestar homenagem ao padre que batizou os seus três filhos e também casou um.
“Era uma pessoa notável, para além da dimensão religiosa e espiritual. Era uma pessoa de um profundo humanismo, que se preocupava muito com os outros, muito inteligente, muito culto, mas sempre com uma grande preocupação com os ouros”, lembrou Durão Barroso, que preside à Aliança Global para as Vacinas.
José Ribeiro e Castro, ex-presidente do CDS-PP e antigo deputado na Assembleia da República, destacou que o padre Vítor Feytor Pinto “marcou a Igreja da cidade e do país, como também [deixou] a sua marca na sociedade portuguesa”, intervindo em “muitas áreas, nomeadamente na saúde, no combate à toxicodependência”, na liderança do projeto Vida e “grande preocupação social”.
“Aqui na Paróquia do Campo Grande foi uma bênção extraordinária que nos caiu. O padre Vítor é daquelas pessoas que, não sendo bispo, deixa uma pegada fortíssima de pensamento, de intervenção, de magistério, de catequese, na Igreja e sociedade portuguesa”, disse aos jornalistas.
José Ribeiro e Castro, que fez parte das equipas litúrgicas das Missas que o sacerdote celebrava e conviveu “muito com ele nesse serviço”, salienta ainda que o padre Vítor Feytor Pinto era um grande orador, “tinha uma palavra muito forte, era um homem vigoroso, alto, um homem impressionante, era uma torre”.
“Era muito querido de muita gente porque foi bom para muita gente: Uma marca muito grande de bondade, um homem de grande coragem”, concluiu, lembrando que venceu os problema de saúde com “grande alegria”.
Da Diocese de Setúbal, o antigo presidente da Cáritas Portuguesa, Eugénio Fonseca, partilhou com os jornalistas uma “palavra de gratidão, de 48 anos de convivência”, que remontam aos tempos da pastoral juvenil.
“Ele era um perito em lidar com os jovens e depois manteve sempre essa juventude. Admirava a sua capacidade de estar com todos, de saber dialogar. De fazer pontes não apenas dentro da Igreja, mas em espaços não eclesiais muitas vezes de natureza política, com outras religiões”, acrescentou.
Vítor Feytor Pinto nasceu na cidade de Coimbra, em 1932, mas cedo se mudou para Castelo Branco, onde o pai fundou um colégio; aos 10 anos entrou no seminário, convencido da sua vocação sacerdotal.
Para além de incorporar diversos organismos públicos internos, como a coordenação do Projeto Vida – o programa de combate à toxicodependência – ou o Conselho Nacional de Ética, a sua presença tornou-se ainda frequente nos fóruns internacionais, nomeadamente na OMS, na Federação Internacional das Associações de Médicos Católicos e no Conselho Pontifício da Pastoral da Saúde.
Monsenhor Vítor Feytor Pinto foi porta-voz, junto dos bispos portugueses, da revolução de 25 de abril de 1974.
CB/OC