É essencial parar e perceber onde é que cada um pode ser agente de mudança, de transformação da sociedade
Sob o signo da crise mais ou menos generalizada que lança as suas sombras sobre o quotidiano individual e comunitário vão surgindo análises sobre causas, efeitos e caminhos a percorrer. A Igreja Católica em Portugal tem procurado assumir, neste contexto, o protagonismo próprio de quem está no terreno, junto dos mais desfavorecidos, e tem também uma longa tradição de reflexão sobre temas da área social, económica e política, numa chave ética.
A Semana Social 2009 surge, assim, como um ponto de referência em contraponto à febre dos números, desde o défice ao desemprego. É que as estatísticas não mostram rostos concretos nem abrem vias alternativas para a tirania das percentagens.
Pensar, em tempos atribulados como este, parece um luxo, mas foi exactamente isso que se privilegiou na iniciativa da Comissão Episcopal da Pastoral Social. Porque é essencial parar e perceber onde é que cada um pode ser agente de mudança, de transformação da sociedade, sem delegar noutros aquilo que é da sua própria responsabilidade, nem esconder passividade e indiferença atrás de dedos acusadores apontados aos culpados do costume – o governo, o sistema, mesmo a Igreja…
Depois do impacto imprevisto (será?) gerado pelo fracasso de instituições e práticas que se tomavam como dados adquiridos e imutáveis – a falta de ética acabou por ser o epicentro deste verdadeiro terramoto -, é tempo de clarificar conceitos e perceber por onde se deve seguir. Como ficou dito em Aveiro, a construção de um bem comum – que é mais do que a soma de “bens” individuais – exige a participação de cada elemento da sociedade e o respeito pelo seu espaço próprio, sem prescindir de qualquer contributo. O caminho a seguir passa por aqui, com confiança, por mais difíceis que pareçam as tarefas a assumir.
Superar a crise actual é bem mais do que abrigar-se da chuva, à espera que ela passe, para poder voltar calmamente a tudo aquilo que se fazia antigamente, por mais desastrosos que tenham sido os resultados do passado. Não vale fingir que se muda para deixar tudo na mesma, porque está provado que o futuro será bem pior, em especial para as pessoas que ficaram mais fragilizadas em função do presente descalabro financeiro e social. É preciso mudar e encontrar novos caminhos por andar.