Militantes chegaram à povoação «no topo da montanha» Oupaï, que tem 1494 metros de altura, e há aldeias «quase vazias»
Lisboa, 19 abr 2022 (Ecclesia) – Um sacerdote no norte dos Camarões disse que “o povo está cheio de medo e ansiedade” perante os ataques regulares que o grupo ‘Boko Haram’ tem realizado, desde setembro de 2021, nesta região perto da fronteira com a Nigéria.
Na informação enviada hoje à Agência ECCLESIA, pelo secretariado português da Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS), o sacerdote explicou que estes ataques estão a causar “medo” nas populações que temem pelas suas vidas, mas também pelas suas propriedades.
“Pensávamos que não conseguiriam chegar a Oupaï porque a povoação está mesmo no topo da montanha, mas estávamos errados”, explicou, adiantando que os terroristas passaram “por Douval, mataram duas pessoas, queimaram casas e levaram roupas e pequenos animais”.
O Monte Oupaï tem 1494 metros de altura, o que dava uma aparente sensação de segurança aos seus habitantes, e fica no extremo norte dos Camarões.
Segundo o sacerdote, por causa destes ataques dos terroristas do grupo Boko Haram, “quatro das sete zonas da freguesia estão paralisadas”, desde meados de fevereiro, afetaram cinco áreas administrativas e algumas aldeias “estão quase vazias”, como Digdé, Douval e Vara.
Os militantes do grupo islamita também mudaram a forma de atuarem, acrescenta, indicando que agora chegam às aldeias “discretamente, aproveitando a lua cheia”, e surpreendem as pessoas “a dormir”, quando no passado chegavam às povoações aos gritos, o que permitia a fuga de algumas pessoas.
“Matam os pais das famílias e os adolescentes, especialmente os rapazes, pilham as propriedades e destroem tudo o que não podem levar”, explicou, lamentando que muitas pessoas tenham de “dormir longe das suas miseráveis cabanas ao frio e em condições terríveis”.
Os roubos atribuídos aos terroristas agravam ainda mais vida das populações numa região marcada por uma pobreza muito acentuada.
O grupo islamita Boko Haram tem a sua base Nigéria, e a Fundação Ajuda à Igreja que Sofre refere que o aumento da atividade terrorista nesta região dos Camarões pode estar diretamente ligada às operações militares nigerianas nas regiões onde habitualmente o grupo que quer criar um califado atua.
Segundo as informações de parceiros de projeto da AIS nos Camarões, os terroristas estarão a agir em áreas mais rurais na Nigéria, especialmente nas regiões fronteiriças dos Camarões e do Lago Chade.
A fundação pontifícia aprovou recentemente um projeto de apoio a um campo de refugiados para vítimas do Boko Haram em Minawao, na Diocese de Maroua-Mokolo, no extremo norte dos Camarões, e apoiou a impressão de dois mil exemplares da Bíblia, na língua Mafa, falada em 12 paróquias desta diocese.
CB