CAIS: Onde está a relação humana?

Associação CAIS refletiu sobre o “preço” da felicidade, numa sociedade em crise, refém do consumismo e dos interesses económicos

Lisboa, 08 abr 2011 (Ecclesia) – O 10º congresso da CAIS, que hoje terminou em Lisboa, deixou expressa a urgência de uma mudança de paradigma na sociedade em geral, que privilegie a relação humana e garanta maior qualidade de vida.

“Portugal há muito tempo que carece de um programa político que permita ver o que é que se quer para a sociedade, para as pessoas, para as empresas, e não o tendo, vamo-nos tornando cada vez mais reféns de quem gere e regula a economia” apontou Henrique Pinto, diretor executivo daquela associação de solidariedade social, em declarações à Agência ECCLESIA.

Entre 6 e 8 de abril, no Instituto Superior de Economia e Gestão, a pergunta de ordem foi mesmo “Quanto custa a felicidade? – Por uma economia de bem-estar”, tendo como pano de fundo a grave crise económica que o nosso país e o mundo atravessam.

Marcaram presença, entre outros conferencistas, o economista João César das Neves, o advogado Henrique Medina Carreira, o presidente do Comité Económico e Social Europeu, Staffan Nilsson, e o presidente da Comissão Central de Economia de Comunhão, Luigino Bruni, professor de Economia da Universidade Biccocca, em Milão.

Respondendo à pergunta em cima da mesa, Bruni sublinhou que atualmente, para se ser feliz, “custa mais investir nas relações humanas”, apostando-se antes na relação com a tecnologia e outro tipo de bens materiais.

O caráter gratuito dos “bens relacionais”, segundo aquele responsável, faz com que “não tenham interesse”, sendo muitas vezes vistos como um risco.

Para usar um termo muito atual, eles têm um “custo de ativação inicial”, que só depois é que se vê se terá retorno, o que não cabe numa sociedade viciada no imediatismo.

“Se somos capazes de dizer que a vida precisa de mínimos, como o salário mínimo nacional ou o rendimento de reinserção social, quem sabe se um dia seremos capazes de dizer que também precisamos de máximos” acrescentou Henrique Pinto, defendendo que “a felicidade pode ser subjetiva, mas a relação humana tem de ter um peso maior” na vivência das pessoas.

Diariamente, a CAIS acompanha de perto cerca de 140 pessoas sem-abrigo, nas zonas de Lisboa e do Porto, procurando dar-lhes alternativas para poderem voltar a inserirem-se na sociedade.

Eles, e um sem número de gente anónima que passa pelas instalações daquela associação, representam o verdadeiro “custo” de uma sociedade que voltou contas à relação humana.

“Com esta crise, estamos a ser obrigados a repensar muita coisa, e vamos também repensar a infelicidade crónica em que caímos, se quisermos viver de outra maneira” concluiu o diretor executivo da CAIS.

Para alargar este debate a toda a sociedade, a CAIS espera reunir brevemente em livro todos os contributos prestados ao longo deste congresso.

JCP 

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