Cabo Verde: Imigração «fragiliza» sociedade que está a perder mão-de-obra

D. Ildo Fortes participa no XVI Encontro de Bispos dos Países Lusófonos com expetativa de «desenvolver maior cooperação nível social»

Foto: Lusa

Lisboa, 11 set 2025 (Ecclesia) – D. Ildo Fortes, bispo do Mindelo disse hoje que a imigração está a “fragilizar” a sociedade cabo-verdiana, que perde mão-de-obra “nas áreas do turismo e construção” e pede que esta situação seja “equacionada”.

“Em Cabo Verde temos assistido, nos últimos anos, a uma demanda enorme, que também merece uma reflexão porque deixa o nosso país numa situação de fragilidade. Estamos a ficar numa situação periclitante em relação ao turismo, a nível da restauração, a nível de técnicos de construção civil, carpinteiros. Está a sair muita gente, então isso precisava de ser equacionado”, explica à Agência ECCLESIA.

O responsável dá conta de um país “assolado pelas secas permanentes”, com pouca produção e de onde “se sai muito” para procurar “melhores condições de vida”: “É um direito das pessoas”.

“Os países têm feito acordos para facilitar a mobilidade entre as pessoas, então é normal que efetivamente isso possa acontecer. Nos países de acolhimento, onde eles se encontram, é importante que a sua identidade se mantenha, ao mesmo tempo que haja integração. Este encontro dos bispos lusófonos é uma boa ocasião para se pensar sobre o problema da imigração”, indica.

Decorre, entre Lisboa e Fátima, o XVI Encontro de Bispos dos Países Lusófonos, reunindo responsáveis católicos de oito nações até sexta-feira, sendo esta uma ocasião para estreitar colaborações, partilhar ajudas e sintonias, para além da já existente na “formação sacerdotal e laical”.

“Penso que há ainda espaço para desenvolver maior cooperação também a nível social. Podemos criar dinâmicas se sentarmos e partilharmos desafios, preocupações, dificuldades, mas também as esperanças e caminhos que podemos procurar juntos. Acredito que o encontro este ano, até pelo tema que nos traz aqui, pode verdadeiramente traduzir-se em formas de ajuda visíveis”, sustenta.

O bispo do Mindelo assinala a importância dos encontros entre responsáveis como sinal de diálogo e partilha para o mundo.

“Neste mundo marcado por tensões, por conflitos, por guerras, por violências, aquilo que foi o sínodo dos bispos é mesmo um sinal de que a Igreja tem que fazer a diferença. A Igreja é um instrumento de paz, de fraternidade, e eu penso que mais do que nunca, talvez nos nossos dias e no mundo, neste século XXI, as Igrejas, nas suas diversas instâncias, podem fazer a diferença mostrando que nós temos muito mais em comum”, reconhece.

Pelo menos sete pessoas morreram na sequência de uma tempestade, que atingiu com maior intensidade a ilha cabo-verdiana de São Vicente, no dia 11 de gosto, causando inundações e danos materiais em estradas, ruas, habitações e outras infraestruturas.

D. Ildo Fortes dá conta da ajuda e da identificação imediata por parte da Cáritas das situações que necessitavam de acompanhamento.

“A Igreja não aparece só quando há uma catástrofe. A nossa Cáritas em Cabo Verde está muito estabelecida, não só a nacional, como as duas diocesanas e em todas as paróquias, temos instâncias da Cáritas. Muitas famílias que foram afetadas com a tempestade, com as grandes chuvas, já estavam sob a nossa alçada. A vocação da Igreja, a sua opção preferencial é pelos pobres. Daí que, no primeiro instante a Cáritas já tinha identificado algumas pessoas cuja casa desabou, ou a água entrou de tal forma que ficaram sem os seus haveres, camas, roupas, utensílios”, afirmou.

Depois da ajuda de emergência, “organização de cestas básicas, refeições quentes, roupas”, as pessoas regressaram às suas casas, mostrando a “esperança que os habita”.

Apesar disso, D. Ildo Fortes aponta “assimetrias” numa sociedade pobre, num país onde escasseia chuva.

“Nestes 50 anos de independência, o fosso centro de ricos e de pobres aumentou-se. Nós temos muitas pessoas que vivem bem, e é verdade, o nosso contexto é uma referência entre sistemas políticos, mas os pobres crescem. A Igreja tem um trabalho regular, sobretudo nas ilhas mais rurais, em Santiago, em Santo Antão, no Fogo, há um trabalho intenso com os pobres, para investir na sua autonomia: ajudamos, por exemplo, as pessoas a cultivarem sua terra, a oferecer os meios de rega gota a gota, a criarem os seus animais, a ter pequenas empresas. Mas hoje há outras formas de pobreza: pessoas em condições infra-humanas, o álcool é um problema enorme, a droga também, muitas jovens em idade escolar que engravidam. É preciso trabalhar essa pobreza humana”, finaliza.

LS

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