Cáritas tem em curso campanhas de ajuda a um povo que tem a esperança «espelhada no rosto», refere D. Ildo Fortes

Mindelo, Cabo Verde, 19 ago 2025 (Ecclesia) – O bispo cabo-verdiano de Mindelo destacou hoje a “esperança no rosto das pessoas” e o “festival da humanidade, da solidariedade” com a população da ilha de São Vicente, após a tempestade que causou perdas humanas e materiais, e inundações.
“Uma nota muito positiva: nas minhas visitas, não encontrei pessoas angustiadas, tristes, com a dor, porque perderam os seus haveres, alguns perderam as suas casas; a esperança é uma coisa que está espelhada no rosto das pessoas”, disse D. Ildo Fortes, esta terça-feira, dia 19 de agosto, em declarações à Agência ECCLESIA.

Segundo o bispo da Diocese de Mindelo, em Cabo Verde, “não há memória de tanta pluviosidade, de tanta chuva, em pouco tempo”, e explicou que o cabo-verdiano, por natureza, teve “sempre uma vida dura”, numa terra onde, “naturalmente, não chove”, e, agora, “choveu demais”, mas é um povo que “luta, vai à guerra, faz de tudo para sobreviver”, e isso tem-se notado nestes dias.
Uma tempestade atingiu a ilha cabo-verdiana de São Vicente com maior intensidade, mas também outras ilhas deste país lusófono, como Santo Antão e São Nicolau, há cerca de uma semana, na noite de 11 de agosto, tendo provado vítimas mortais, inundações, danos materiais em estradas, ruas, habitações e outras infraestruturas.
Nós temos uma livraria diocesana, que, infelizmente, a água levou tudo. É uma casa de cópias e todas as máquinas ficaram debaixo da água, os computadores, mas. Depois de dois ou três dias intensos a tirar a água e lama, já estamos com as portas abertas, assim, também outros estabelecimentos”.
D. Ildo Fortes adiantou que não conseguiu ainda “ir a todas as zonas” afetadas pela tempestade em São Vicente, mas a Cáritas Diocesana tem “pessoal no terreno”, e “funciona como rede” e está “em todos os bairros”, tendo feito “um inventário bastante vasto” das necessidades, para além de terem o apoio de profissionais da Cáritas de Santo Antão, “a ilha vizinha”.
O bispo diocesano que é também o presidente da Cáritas Cabo-verdiana explica que estão “a trabalhar em rede com as outras estruturas humanitárias”, e com a Profissão Civil e a câmara municipal.
“Neste momento, a primeira ajuda, que é de emergência, é levar um prato para as pessoas, levar roupa, dar apoio espiritual também, que é um grande valor que a Igreja tem”, afirma D. Ildo Fortes, adiantando que identificaram 300 famílias que estão a passar por dificuldades.
As três paróquias da Ilha de São Vicente são pontos de recolha de alimentos, vestuário, e de confeção de alimentos, enquanto as escolas, que “são um bocadinho maiores, têm ginásios, os balneários, tem espaços livres”, acolhem as pessoas desalojadas.
D. Ildo Fortes usou a linguagem do Festival Internacional de Música da Baía das Gatas, que se realiza em São Vicente, tendo sido cancelada a edição 2025, para afirmar que estão “a assistir a um festival da humanidade, um festival da solidariedade, que é tão bonito”.
“Andamos distraídos, agarrados ao não essencial. Eu penso que esta tempestade acaba por servir como um abanão. Há outras coisas que precisamos estar atentos, são as vidas humanas, é a segurança das pessoas, a solidariedade, é a nossa comunidade”, observou.
Nós temos certeza de que as cinzas se renascem. Após Sexta-feira Santa vai haver luz da ressurreição, e todos estamos muito esperançosos que vamos vencer esta guerra e vamos ter um Mindelo belo, uma terra bonita, e as pessoas vão poder viver uma vida social, retomar a vida cultural, que faz parte desta cidade.”
CB/PR
A Cáritas Caboverdiana, que já teve encontros com ‘Cáritas Internacionais’, com Cáritas África, entre outras instituições, e está a dinamizar uma campanha de solidariedade “para São Vicente e sua gente”, tendo divulgado os números das contas bancárias para onde é possível enviar os donativos para as vítimas da tempestade, bem como pontos de recolha nas várias ilhas
O bispo da Diocese de Mindelo destaca que, dos ecos que recebe, vão vendo que as pessoas “estão a aderir à campanha” da Cáritas, assim como outras iniciativas que surgiram, “muitos gestos que são válidos”, mas lembra a importância de existir uma ajuda estruturada, de canalizar o apoio para “instituições credíveis, que conhecem o terreno, e as pessoas”. Segundo D. Ildo Fortes, os bancos, seguradoras, empresas sociais, também se disponibilizaram “para ajudar instituições, fornecendo materiais ou verbas”, e destacou a solidariedade da diáspora: segunda-feira chegou um avião com “mantimentos”, de Paris (França), nos Estados Unidos da América também são sensíveis e “estão, desde o primeiro momento, organizados em enviar contentores”. “E há também pessoas particulares, ou até mesmo instituições, que nos têm contactado desde a primeira hora. É uma coisa muito bonita de ver a dimensão da solidariedade transversal. Logo no dia seguinte, um amigo da América mandou uma verba para ajudar as primeiras necessidades, a mesma coisa com um amigo ligado a uma instituição social da Portugal”, desenvolveu. Também em Portugal, a ‘Solidaritas-Mindelo’, com sede em Loures, Associação Cristã de Solidariedade com a Diocese de Mindelo, criada por amigos de D. Ildo Fortes há 14 anos, lançou uma campanha de apoio; já na Guiné-Bissau, as duas dioceses vão destinar “o peditório no próximo domingo exclusivamente para ajudar os irmãos de Cabo Verde, para os pobres”, referiu o entrevistado. O bispo diocesano, que da janela de casa assistiu à limpeza da praia do entulho acumulado, assinala também que se têm visto, nas ruas, “muitas pessoas com a sua pá e a picareta, a enxada, vassouras”, a limpar, mesmo quem não sofreu danos, mas foram “ajudar as tais pessoas que estão precisando”. “Em crioulo diz-se ‘djunta mon’, juntar as mãos. Há aqui uma ‘djunta mon’, há aqui uma solidariedade muito bonita”, concluiu D. Ildo Fortes, adiantando que a Cáritas está também a desenvolver um projeto a longo prazo, para as necessidades que vão surgir após este apoio inicial de emergência.
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